Balanço mensal - livros lidos e recebidos em novembro


Finalmente disponho de tempo para sentar-me ao computador e escrever um balanço com exatamente quinze dias de atraso… Já adivinhava que dezembro traria tempos difíceis, que me afundaria em testes, grelhas de excel e que a sensação de sufoco (a qual nunca me irei habituar, por muitos anos que tenha de carreira docente) que sempre me acompanha no final de períodos letivos me estrangularia os dias e as noites, mas nada faria prever que descuraria este cantinho da forma como tenho descurado. Tenho vários textos em atraso, porém obrigações profissionais são obrigações profissionais e as mesmas têm exigido que lhes dedique todo o meu tempo, sem dó nem piedade.
Sendo assim, com quinze dias de atraso, partilho convosco como foi o meu novembro de leituras e que novos habitantes chegaram à estante. Li sete obras, quatro adultas, duas juvenis e uma infantil. A minha estante engordou mais – está a começar a ter contornos deliciosamente obesos – com obras todas elas oferecidas tanto pelas editoras Clube do Autor e Cultura Editora como pela minha querida amiga Liliana. Voltei a não pecar (só eu sei o quanto me custou ignorar as mensagens e e-mails que todos os dias bombardearam o meu telefone) e não adquiri nenhum livro para mim, apenas aproveitei as mil e uma promoções para ir acumulando prendas com cheirinho a Natal.
Arranquei o mês lendo uma das várias obras generosamente oferecidas pela editora Clube do Autor. Embora não seja consumidora de leituras policiais, admito que gostei de ler O bibliotecário de Paris. Senti uma empatia imediata com o seu protagonista, Hugo Marston, segui com interesse a investigação que o mesmo foi fazendo para descobrir o responsável de vários assassinatos associados à biblioteca americana da capital francesa e considero que o autor – Mark Pryor – fez um bom trabalho, criando um enredo que vai deixando pistas, mas sem que as mesmas sejam demasiado reveladoras acerca de quem é, afinal, o verdadeiro culpado pelas mortes que vão acontecendo ao longo da trama.
Em poucos minutos devorei a obra que se seguiu. O rosto da avó é uma belíssima história infantil que me embargou a voz e me levou às lágrimas desde a sua palavra inicial. Em pouco mais de trinta páginas, entramos em casa de uma avó e de uma neta que tenta matar a sua natural curiosidade, querendo saber por que motivo o rosto da sua avozinha está traçado de inúmeras rugas. As respostas que a anciã dá são de uma simplicidade que nos esmaga e deixaram-me de nó na garganta, com uma vontade incontrolável de agarrar o livro e de não o devolver mais, de não o devolver às prateleiras da biblioteca municipal e ficar com ele para sempre.
Ruínas é do jovem autor Hugo Lourenço. É narrado na primeira pessoa e faz-nos recordar o quanto o presente, a realidade dos nossos dias é amarga para os jovens que querem ganhar a vida e conquistar a sua independência. Amarga para jovens licenciados, amarga para jovens para quem a vida sempre foi madrasta e amarga inclusive para jovens que parecem ter tudo a seu favor. Contudo, apesar de sentirmos que essa amargura predomina na narrativa, também compreendemos que a mesma não a domina por completa, que há uma revolta latente, uma vontade de gritar que é necessário agir, que é imperativo não abandonarmos a esperança e que a arte pode ser a ferramenta que nos ajudará a agitar as águas estagnadas e mexer neste status quo cinzento e conformado.
O rapaz do rio foi a primeira das obras juvenis que me fizeram companhia em novembro e, uma vez mais, rendi-me à literatura dos mais novos e a outra história de avós e netos. Adorei a ligação especial entre Jess e o pai do seu pai, simpatizei com o velho rezingão que sabe que não lhe resta muito tempo de vida e quase sufoquei de emoção com a demanda da neta ao tentar suavizar as dores do avô ao mesmo tempo que tenta conhecer quem ele foi enquanto jovem e o quanto essa descoberta a pode ajudar a conhecer-se a si mesma.
Novembro foi igualmente sinónimo de regresso às leituras em espanhol e às leituras digitais. Voltei a ler Jorge Díaz, voltei à cidade de Madrid dos primeiros anos do século XX e embarquei num transatlântico luxuoso que me levou de Barcelona à costa brasileira, onde naufragou, ficando, por isso, conhecido como o Titanic espanhol. Tengo en mí todos los sueños del mundo foi a segunda obra que li de Jorge Díaz, depois de Cartas a Palacio. Tal como a sua antecessora, parte de factos verídicos e oferece-nos uma panóplia de personagens cativantes e uma narrativa apaixonante, melhor inclusive do que a que nos transporta para o palácio real madrileno onde, por alturas da Primeira Grande Guerra, chegam centenas de cartas pedindo ajuda ao monarca espanhol para que este consiga que famílias de vários países europeus saibam o que se passou com os seus entes queridos envolvidos na máquina da guerra.
O cão e os Caluandas foi a terceira obra que li de Pepetela, mas foi aquela que infelizmente menos me agradou. Aprendi um pouco mais sobre a Angola recém-saída da dependência colonial, expandi o meu léxico do português que se fala naquele país, contudo não fui capaz de me prender à história de um cão que foi deixando rasto na vida de vários angolanos e tão-pouco consegui entender a mensagem que o autor pretendia transmitir.
Terminei o mês da melhor forma possível, lendo outra obra juvenil a que atribuí a nota máxima. A história do Sr. Pivete tem tanto de hilariante como de ternurenta. Transmite, entre gargalhadas, doçura e lágrimas, valores morais, ensinamentos preciosos e fornece exemplos daquilo que na verdade é o mais importante para qualquer ser humano – sentir-se amado e que é necessário e vital na vida de alguém.

Como referi no início deste balanço, todos os livros que caíram na estante no mês de novembro foram generosas ofertas. A primeira – O peso do coração, de Rosa Montero – foi-me oferecida pela minha querida Lili que tem gestos inesperados e maravilhosos como este e que me deixam sem palavras. As outras ofertas foram caindo na caixa do correio e são a prova de que este cantinho vai agradando a algumas pessoas anónimas e a algumas ligadas a editoras. Da editora Clube do Autor recebi a obra juvenil Planeta Branco, de Miguel Sousa Tavares, O últimos dos nossos, de Adélaide de Clermont-Tonnerre e As lágrimas de Aquiles, de José Manuel Saraiva. Da editora Cultura, recebi Limões na madrugada, de Carla M. Soares. Nenhum destes autores me é desconhecido, já li outras obras suas e estou particularmente ansiosa por ler mais, por poder deitar a mão a estas saborosas ofertas, que muito agradeço.

Novembro foi assim um mês muito apetitoso, com mais leituras do que previa inicialmente e com novos habitantes na estante, nenhum deles consequência dos meus hábitos de compradora compulsiva. Dezembro entretanto já vai a meio e já conta uma história diferente… Já cedi a impulsos, já comprei livros para mim, porque não fui capaz de deixar escapar oportunidades imperdíveis. E mais não digo J
Termino deixando-vos os links para acederem à opinião completa das obras lidas este mês:
§  O bibliotecário de Paris, de Mark Pryor
§  O rosto da avó, de Simona Ciraolo
§  Ruínas, de Hugo Lourenço
§  O rapaz do rio, de Tim Bowler
§  O cão e os Caluandas, de Pepetela
§  Sr. Pivete, de David Walliams

6 comentários:

  1. Espero que a segunda metade do mês te traga mais tempo livre e descanso para nos contares mais sobre as tuas leituras.
    Em Novembro li finalmente Joanne Harris! Soube-me bem intercalar um livro mais ligeiro, que nos faz querer virar mais uma página e outra até ao fim, com outro extremamente pesado que tinha em mãos, "Vozes de Chernobyl" da Svetlana Alexievich. A protagonista Mado também faz o meu género, muito espevitada e determinada, mas onde "A Praia Roubada" peca, para mim, é na linguagem, que acho pouco requintada e demasiado dependente dos diálogos. Sou daquelas aves raras que gosta e entra mais nos livros com descrições e introspecções!
    Estou mortinha por saber como te desforraste nas compras agora em Dezembro e quero muito saber se esse da Rosa Montero é bom, porque nunca li nenhuma crítica sobre ele.
    Paula

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    1. A segunda metade do mês já chegou e trouxe desafogo suficiente para que possa continuar com as minhas leituras e não descurar mais deste cantinho. Acho que finalmente vou ter tempo suficiente para pôr em dia os textos que tenho em atraso.
      Fico feliz por te teres estreado com a "minha" Joanne Harris e que compreendas o porquê de me socorrer das suas obras com alguma frequência. Não me trazem o nível de introspeção que encontro nos meus deuses literários, não a posso comparar com a Mazzantini, a Almudena ou outros, mas entretém-me, mantém-me colada à história e isso sabe muito bem.
      Quero muito ler esse extremamente pesado da Svetlana. Já o terminaste? E que tal?
      Bom... as compras de Dezembro. Não foram muitas, consegui controlar-me, mas caramba, a estante vai ganhar uns bons quilos com estas festas :)
      Não tenciono ler o da Rosa Montero muito em breve, mas talvez quebre as minhas leituras cronológicas e o enfie no meio de outras de janeiro e fevereiro de 2017!!! Só para satisfazer a tua e a minha curiosidade!
      Beijinhos!

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  2. O da Svetlana é tudo de horrível que se pode esperar de relatos na primeira pessoa sobre um acidente nuclear. Já me tinham avisado que era para ler aos bocadinhos, e realmente é poderoso e doloroso. Este ano, "As Vozes de Chernobyl" e os "Actos Humanos" da Han Kang levam o galardão do sofrimento.
    Beijinhos, Paula

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    1. Pois, quero muito lê-los, porque persigo o sofrimento nas leituras, como tu bem sabes! A biblioteca da terrinha tem tanto o da Svetlana como o da Han Kang, por isso virão comigo um dia destes, mas um de cada vez, pois depreendo pelas tuas palavras que essa é a melhor opção.
      Beijinhos e aproveita bem os últimos minutos de 2017!

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  3. Olá querida,
    Que bons livros recebeste! Estou neste momento a ler "O Planeta Branco". Depois partilho a minha opinião.
    Um beijinho.

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    1. Olá, Isa!
      Esse ainda não lhe peguei, mas espero fazê-lo este mês. Foram bons livros, ai isso foram! Que venham mais de onde vieram estes ;)
      Beijinhos e leituras saborosas.

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