Los pasos que nos separan, de Marian Izaguirre


Ficha técnica
TítuloLos pasos que nos separan
Autora – Marian Izaguirre
Editora – Lumen (e-book)
Páginas – 290
Datas de leitura – de 12 a 20 de agosto de 2017

Opinião
Regressei às leituras em espanhol guiada pela mão de Marian Izaguirre, uma autora que já conhecia de A vida quando era nossa, obra publicada no nosso país pela Bertrand e que me preencheu com uma intensidade quase perfeita alguns dias do verão de 2015.
Dois anos mais tarde, aproveitando mais uma oferta da Cristina Tista, descarreguei a edição digital de Los pasos que nos separan para o tablet e levei-a comigo em mais uma passeata por terras castelhanas. Durante uma semana, enquanto calcorreava espaços impregnados de História e respirava os ares de uma das antigas capitais do país vizinho, fui-me adentrando nas vidas de Salvador, de Edita, de Jana e de Marina e com eles calcorreando respirando outros espaços, outros tempos.
As páginas desta obra guiam os nossos passos por várias cidades europeias – iniciamos a viagem em Barcelona, a estada mais longa faz-se em Trieste e terminamos em terras da antiga Jugoslávia, mais propriamente em Liubliana e Zagreb. Percorremo-las em duas épocas distintas que se intercalam – vários anos da década de 1920 e fins dos anos setenta. O elo de ligação entre estes espaços e estas épocas é a vida de Salvador Frei, escultor idoso que sente a morte acercar-se e quer encerrar algumas portas que necessitam ser encerradas.
Através de uma escrita muito intimista, que nos chega polvilhada de frases curtas, adentramo-nos em duas épocas muito marcantes da vida do nosso protagonista – na primavera de 1920, com 21 anos, quando se apaixona perdidamente por Edita, uma mulher casada e nos finais de 1970, com 80 anos, quando sente a morte morder-lhe os calcanhares e sabe que há mais uma jornada a cumprir.
Para cumprir essa jornada, Salvador publica um anúncio num jornal em busca de alguém jovem que o acompanhe e esteja sempre ao seu dispor. A esse anúncio responde Marina, uma jovem de Bilbao, que estuda em Barcelona e que procura neste emprego a solução para os problemas que a assolam e que são consequência de “ser inconsciente y despreocupada por obligación.” Duas personagens de gerações díspares, mas que se juntarão porque uma necessita da outra e que, no breve tempo que desfrutarão na companhia uma do outra, terão a oportunidade de abrir o livro das suas vidas e compreender que nem tudo as separa, que há vivências e sentimentos que as acercam e as fazem passar de completos desconhecidos a cúmplices, a parceiros de uma jornada que está prestes a acabar para Salvador e a iniciar-se para Marina.
Los pasos que nos separan é assim uma obra sobre vidas, sobre sentimentos, sobre escolhas e sobre as consequências dessas escolhas.
Por um lado, temos a história de amor entre Salvador e Edita, dois estranhos que se esbarram e se apaixonam, caindo rapidamente nos braços um do outro. O desejo, a atração, a vontade de estarem juntos são incomensuráveis e com eles vêm a culpa, a traição, o ciúme. Edita é casada, tem uma filhota pequenina, mas põe tudo em causa a partir do momento em que o seu pensamento e o seu corpo lhe exigem que esteja sempre junto a Salvador. É uma mulher forte, decidida, determinada, mas sente-se dividida em duas – uma que lhe pede que não ceda ao desejo adúltero, outra que a obriga a mentir, a desleixar os seus deveres de mãe e a procurar o amante. É uma personagem imperfeita, mas humana, tão próxima de alguém que se possa sentar ao nosso lado e que apenas quer ser feliz. Por sua vez, Salvador revela-se um jovem imaturo, que se entrega a uma relação proibida, mas que não sabe muito bem lidar com esse lado clandestino. Em mais de que um momento, reconhecerá que não tem a coragem necessária para enfrentamentos – “Pasar de puntillas. Mirar para otro lado. Sabía hacerlo muy bien. Se había entrenado durante toda la vida para no tener que afrontar las cosas cara a cara.” Na reta final da sua existência, fazendo o inevitável balanço, tem a clara consciência de que viveu a vida como pôde, teve o seu quinhão de felicidade, mas que esta foi à custa da infelicidade de outros. Por isso, a culpa pesa, faz mossa e exige perdão, redenção.
Do outro lado da história está Marina, uma jovem que também sente na pele as consequências das suas escolhas, dos seus atos. Quis ser independente, dona do seu destino, mas não está minimamente preparada para o que este lhe reservou – “… recuerda esa sensación que le perseguirá para sempre. El desamparo. Algo parecido al frío de los amaneceres o al miedo de las noches sin luna.” A determinada altura, procurará o conforto da experiência de Salvador, partilhará os seus medos e estará atenta a tudo o que ele lhe conta. Aprenderá, amadurecerá e olhará de frente o que o futuro lhe reserva.
Esta obra de Marian Izaguirre é assim uma obra de personagens, de pessoas comuns que nos falam, que nos tocam. Tem um tom aconchegante que me cativou e que me faz querer continuar a ler esta autora, seja em português, seja em espanhol.
Obrigada, Cristina, por me teres oferecido esta leitura!

NOTA – 08/10

Sinopse
La bora, el viento que azota Trieste en ciertas épocas del año, es un aire apasionado que dura poco pero dobla el cuerpo y muda el ánimo. Salvador y Edita se conocieron en esta ciudad un día de primavera de 1920. Soplaba el viento, y todo cambió. Ella había nacido en Liubliana y él en Barcelona, y los dos rondaban los veinte años, una edad espléndida para permitirse cualquier locura, pero Edita, hermosa y discreta, estaba casada y tenía una hija. Salvador solo tenía su trabajo en el taller de un gran escultor y ganas de ser por fin un hombre y pisar fuerte en la vida.
Luego, en Barcelona, casi a finales de los años setenta...Un hombre ya mayor y viudo que busca ayuda para volver a Trieste y a todos los lugares donde un día creyó ser feliz, y una chica, Marina, que va a ir con él para buscar un futuro. Y entre Salvador y Marina, de repente, casi sin avisar, los recuerdos: un parque a orillas del mar, las sábanas revueltas de un amor a media tarde, un andén, una niña que se aleja, y una espléndida tabla renacentista con una Virgen que mira y duda.

Con esas voces que se cruzan en el tiempo y en el espacio, Marian Izaguirre ha escrito una novela donde la culpa y el perdón juegan el mejor de los partidos y cada paso importa.

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