Amada vida, de Alice Munro


Ficha técnica
Título – Amada vida
Autora – Alice Munro
Editora – Relógio D’Água
Páginas – 267
Datas de leitura – de 22 a 28 de outubro de 2016

Opinião
Na última visita à Biblioteca Municipal da terrinha não perdi muito tempo a percorrer as estantes. Já sabia exatamente o que pretendia trazer no saco – O mundo em que vivi, de Ilse Losa (opinião que podem consultar aqui) e um qualquer de Alice Munro. Acabei por trazer Amada Vida simplesmente porque a sinopse prometia.
Pouco ou nada sabia desta autora canadiana. Tinha conhecimento de que havia sido laureada há uns anos atrás com o Nobel da Literatura por dedicar-se àquele que ainda é considerado um género menor dentro das artes literárias – o conto. Para além disto, nada mais. Não conheço ninguém que tenha lido qualquer obra sua, apenas ouvi aqui e ali alguns comentários positivos.
Sendo assim e sobretudo porque ultimamente tenho tido experiências muito gratificantes com compilações de contos, atrevi-me a arriscar e a ler uma obra da autora de contos premiada com o galardão máximo da literatura.
Todos os contos que compõem Amada Vida são curtinhos e leem-se rapidamente. Têm outras características em comum, tais como desenrolarem-se no território natal da autora, sobretudo em épocas da primeira metade do século XX e serem quase todos protagonizados por personagens femininas. Contudo, o ingrediente que mais sobressai em toda a obra é a sensação com que ficamos leitura após leitura de todos os contos – a realidade interior e exterior às personagens, os seus atos, a sua corriqueira rotina, os seus sentimentos, tudo nos chega de uma forma muito despretensiosa, quase como se a autora deliberadamente não os quisesse apimentar com doses de alma e de vida. Deparamo-nos com exemplos de adultério, de chantagem, de morte de um filho, de mudanças radicais no que estava previsto fazer com o resto de uma vida, de pensamentos macabros associados ao assassinato de um ente querido. E em todos estes exemplos e outros não menos dramáticos, senti que a intenção da autora era transformá-los em meras coisas corriqueiras, típicas de uma existência banal e consequentemente não passíveis de serem postas numa história repleta de drama e sentimentos à flor da pele.
Tenho consciência de que, para um escritor, deve ser bem mais exigente e complicado banalizar o que facilmente poderia ser narrado de forma intensa, dorida e assoberbada de adjetivos e trechos carregados de emoção. Contudo, apesar de não simpatizar com esse género de literatura que puxa pela lágrima fácil, confesso que o que, com muita frequência, busco na leitura é a dor, a amargura, a complexidade de sentimentos que nos compõem como seres humanos. Sendo assim e apenas por essa razão, tenho que admitir que a minha estreia no mundo “contista” de Alice Munro não foi muito feliz… Gostei do seu estilo simples e limpo, reconheço que maneja como poucos as artes de criação de um conto, mas aqueles que constituem Amada Vida não me prenderam, não agitaram as águas dos dias em que me fizeram companhia. Quero turbulência, quero sentir e não me entusiasma mesmo nada a estagnação.
Por tudo o que referi, não posso atribuir a esta leitura uma nota superior…

NOTA – 07/10


Sinopse
Plano Nacional de Leitura
Livro recomendado para o Ensino Secundário como sugestão de leitura.

Uma poeta, na sua primeira festa literária em território inóspito, é resgatada por um colunista de jornal, acabando por partir numa incursão pelo continente que a leva a um inesperado encontro. 
Um jovem soldado, ao regressar da Segunda Guerra Mundial para os braços da sua noiva, sai na estação de comboio anterior à sua, encontrando numa quinta uma mulher com quem começa nova vida. 
 Uma jovem mantém um caso com um advogado casado, contratado pelo seu pai para gerir os seus bens. Quando é descoberta, encontra uma forma surpreendente de lidar com a chantagista. 
 Uma rapariga que sofre de insónias imagina, noite após noite, que assassina a irmã mais nova. 
 Uma mãe resgata a sua filha no exacto momento em que uma mulher tresloucada invade o seu quintal.
«Quem é capaz de dizer a um poeta a coisa perfeita acerca da sua poesia? E sem uma palavra a mais ou a menos, apenas o suficiente.»

 Alice Munro, «Dolly», in Amada Vida

O mundo em que vivi, de Ilse Losa


Ficha técnica
Título – O mundo em que vivi
Autora – Ilse Losa
Editora – Edições Afrontamento
Páginas – 196
Datas de leitura – de 17 a 21 de outubro de 2016

Opinião
Cada vez me convenço mais de que a literatura infanto-juvenil “esconde” tesourinhos de valor incalculável! Sempre que deambulo por uma livraria, os meus olhos e as minhas mãos percorrem com sofreguidão tanto as prateleiras da literatura adulta como as dos livros para os mais pequenitos. Faço-o não só porque tenho lá em casa um pequenote a quem tento abrir as portas do mundo fantástico das letras mas também porque não resisto às histórias criadas para as “hostes” infantis e juvenis.
A capa de O mundo em que vivi está frequentemente em destaque nas prateleiras das livrarias relacionadas com o Plano Nacional de Leitura. Recordo-me que só há bem pouco tempo satisfiz a curiosidade e li a sua sinopse. É óbvio que não fazia a mínima ideia de que a imagem que ocupa a capa da obra, uma menina vestida de verde, com um laçarote na cabeça e uns olhos negros, enormes e tristes, nos transportaria para as ruas, aldeias, vilas e cidades de uma Alemanha acabrunhada, ferida e ávida de bodes expiatórios em quem poderia cuspir, calcar, insultar, atemorizar e culpar de todos os males que a haviam levado a perder a Primeira Grande Guerra e o sentido e orgulho de se sentir uma nação plena.
Rose é neta e filha de judeus e num registo confessional narra-nos episódios da sua infância, da sua adolescência, da sua juventude, até ao momento em que sabe que tem apenas cinco dias para abandonar a sua pátria Alemanha se não quiser ser presa por ter cometido o crime de nascer no seio de uma família judia.
É óbvio que toda esta contextualização histórica, o crescente ódio não disfarçado que alguns alemães devotam a quem é judeu, o descontentamento económico, o surgimento do partido nazi, representam um papel preponderante nesta obra, mas aquilo que verdadeiramente me encantou (se é que se pode falar de encantamento num cenário destes) foi a naturalidade com que a autora me fez recordar a infância, as ações, atitudes, gestos e pensamentos de uma menina pequenina que de tudo tira as suas ilações, com tudo faz comparações e que questiona tudo o que não compreende. A primeira parte da obra, na qual Rose partilha connosco os tempos em que viveu com os avós, a ternura e doçura que caracterizavam a relação que tinha com o avô Markus é simplesmente maravilhosa, com passagens que tanto nos põem um sorriso nos lábios como nos faz derramar umas lágrimas.
À medida que Rose vai crescendo e o seu mundo passa a abarcar espaços e gentes que encontra fora das quatro paredes da sua casa, sentimos que o facto de ser judia a envergonha, a incomoda, não porque não goste ou não divida as crenças dos seus familiares, mas sobretudo porque começa a compreender que não ser igual aos outros, não frequentar a mesma igreja, não celebrar as mesmas celebrações a obrigará a sentir-se uma forasteira, uma estrangeira que não é bem-vinda no seu próprio país.
Tudo o que referi, adicionado a um punhado de personagens tocantes, começando pela própria Rose, pelo seu inesquecível avô Markus, pela avó Esther (a quem a neta entenderá talvez demasiado tarde), pelos tios Franz e Marie, e a uma escrita que agrada a jovens e encanta a adultos, faz de O mundo em que vivi uma obra obrigatória, um tesourinho que tem que ser descoberto por todos os leitores que buscam uma história extremamente bem construída na sua simplicidade e que toca todos os que mergulharem nas suas páginas. É o ponto de vista de uma criança, de uma jovem sobre um dos períodos mais negros da nossa história. Mas é principalmente uma narrativa intemporal, doce e inocente como a infância e complexa, contraditória e questionadora como a juventude.
Por favor, se ainda não leram esta obra de Ilse Losa, se, como eu, já percorrem os anos adultos há algum tempo, não deixem de saboreá-la e, por que não, a outras obras “infanto-juvenis”. Não deixem de fazê-lo apenas por serem aconselhadas a um público mais jovem. Estarão a permitir que vos escapem experiências de leituras inesquecíveis!

NOTA – 10/10

Sinopse
Plano Nacional de Leitura
Livro recomendado para o 8º ano de escolaridade, destinado a leitura orientada.

CRÍTICAS DE IMPRENSA

"Numa escrita inexcedivelmente sóbria e transparente, e através de breves episódios, este romance conduz-nos em crescendo de emoção desde a primeira infância rural de uma judia na Alemanha, pelos finais da Primeira Grande Guerra Mundial, até ao avolumar de crises (inflação, desemprego, assassínio de Rathenau, aumento da influência e vitória dos Nazistas) que por fim a obrigam ao exílio mesmo na eminência de um destino trágico num campo de concentração. Há uma felicíssima imagem simbólica de tudo, que é a do lento avançar de uma trovoada que acaba por estar "mesmo em cima de nós". Assistimos aos rituais judaicos públicos e domésticos, a uma clara atracção alternativa entre a emigração para os E.U. e o sionismo. Fica-se simultaneamente surpreendido pela correspondência e pelas diferenças entre o adolescer e o viver adulto em meios culturais muito diversos, pois há relances de vida religiosa luterana, católica e de agnosticismo à margem da experiência judaica ortodoxa. Perpassam figuras familiares de recorte nítido: os avós da aldeia, o pai, negociante de cavalos, desfeitado por anti-semitas e falecido de cancro, os tios progressistas Franz e Maria, o avô Markus, a amorável avozinha Ester (Kleine Oma), Paul (o jovem quase-namorado que se deixa intimidar pelo ambiente), Kurt (o jovem enamorado assolapado, culto e firme nas suas convicções). A acção é desfiada numa sucessão de fases biográficas progressivamente dramáticas - e nós acabamos por participar afectivamente de um destino ao mesmo tempo muito singular e muito típico, que bem nos poderia ter cabido. Um romance de características únicas na leitura portuguesa - e emocionalmente certeiro".
Óscar Lopes

Uma história de amor e trevas, de Amos Oz


Ficha técnica
Título – Uma História de amor e trevas
Autora – Amos Oz
Editora – Edições ASA
Páginas – 640
Datas de leitura – de 06 a 16 de outubro de 2016

Opinião
Já se passou quase uma semana desde que terminei a leitura desta obra. Só hoje consegui encontrar um pedacinho de tempo livre para ordenar as ideias e começar a estruturar este texto. Contudo, não posso apenas culpar o acumular de trabalho. Tenho, sim, a perfeita consciência de que não me sentei à frente do computador imediatamente depois do fecho da leitura porque esta foi algo dececionante.
É o que acontece quando as expectativas são demasiado altas. É o que acontece quando espreitamos o trailer da adaptação cinematográfica da obra, ficamos paralisados de emoção perante as imagens que correm diante dos nossos olhos e assumimos que o que estamos a ver corresponderá quase literalmente ao que vamos descobrir nas imensas páginas que compõem o livro que, desde junho, espera que o retiremos da estante.
Não me assustam os calhamaços. Pelo contrário. Quanto mais páginas, melhor. Mais o autor poderá aprofundar, detalhar acontecimentos. Mais poderemos conhecer as personagens e as circunstâncias que as rodeiam. Mais tempo estará a obra juntinho a nós. No entanto, tenho que reconhecer que os dez dias em que Uma história de amor e trevas me fez companhia fizeram-me questionar essa preferência por obras volumosas. Logo nas primeiras páginas pressenti que tinha colocado a fasquia das expectativas muito lá em cima. Lado a lado com passagens absolutamente fabulosas, que sublinhei com encantamento, fui-me deparando com descrições às vezes exasperantes de gentes, de espaços e de acontecimentos ligados a Israel e à demanda judia. Descrições e apontamentos repetitivos e que, na minha perspetiva, nada acrescentavam ao desenrolar da narrativa.
Uma história de amor e de trevas é autobiográfica. Conta-nos, na primeira pessoa, a infância do autor, a sua juventude e oferece-nos imagens e notas que fazem a ponte entre o seu passado e o seu presente. Compreendemos, à medida que a narrativa desenrola, as dificuldades que os judeus foram ultrapassando para encontrar o seu canto de terra, o seu lar, a sua pátria. Percebemos ainda que Israel é a última etapa de uma vida de luta, de fuga, de discriminação, de genocídio de um povo extremamente culto. Entendemos por fim que nem todos os judeus e os árabes se veem uns aos outros como um pérfido inimigo e que uns e outros sentem que poderia haver espaço para uma pacífica convivência entre ambos os povos.
Quando embarco na leitura de uma obra deste género não espero apenas que a ação se centre apenas no dia-a-dia das personagens. Quero que essa rotina se misture com uma contextualização histórica adequada porque só essa junção traz aquele saborzinho a um suculento romance histórico. Contudo, creio (e é apenas a minha opinião, vale o que vale) que o autor complicou demasiado, mastigou muito aquilo que, em muito menos páginas, seria uma interessante narrativa autobiográfica. Cansou-me ter que ler dia após dia os detalhes das pessoas que eram íntimas da sua família. Bufei de aborrecimento perante capítulos e capítulos de pormenores dos seus familiares, sobretudo as personagens mais secundárias. Não tive a paciência necessária para ler passagens que se foram repetindo ao longo da obra como, por exemplo, a ideia de que a mãe falava pouco quando familiares e amigos se reuniam, mas que quando o fazia, a conversa não mais voltava a ser a mesma. Custa-me reconhecer, mas estas passagens maçudas obrigaram-me a fazer batota e a lê-las na diagonal…
Sendo assim, tenho que reconhecer aquilo que é evidente naquilo que escrevi até ao momento. Não foi uma leitura fácil. Senti-me fraudulenta e só não desisti da obra por causa do incentivo do maridinho (que já a havia lido), de opiniões bastante favoráveis que a obra mereceu por parte de pessoas em quem confio muito e de que talvez o final me pudesse surpreender. E assim foi. Nas derradeiras cem páginas (mais ou menos), o maçudo desaparece e a leitura flui. Estabelece-se uma ligação mais próxima entre leitor e personagens principais, recordei passagens do trailer da adaptação cinematográfica que me entusiasmaram e dessa forma fiz as pazes com o autor.
Concluo dizendo que essas páginas finais seriam suficientes para mim. O resto lê-lo-ia se quisesse aprofundar os conhecimentos escassos que tenho sobre Israel, sobre a sua importância para os judeus e sobre rituais, tradições, línguas e outros aspetos culturais e históricos deste povo. Ou seja, se me quisesse debruçar sobre factos e não sobre um romance.

NOTA – 07/10 (sobretudo por causa da já referida parte final da obra)

Apesar de ter consciência de que pode ser contraproducente, deixo-vos o trailer da adaptação cinematográfica – penso que o filme deve ser fabuloso!



Sinopse
Farsa e dor, história e humanidade integram este retrato mágico de um escritor que testemunhou o nascimento de uma nação.
Amor e trevas são duas poderosas forças que se cruzam e acompanham a história de Amos Oz, que nos guia numa fascinante viagem ao longo dos 120 anos de história da sua família e dos seus paradoxos.
Um relato impregnado de ruído e fúria, nostalgia, perda e solidão. Em busca das raízes remotas da sua tragédia familiar, Amos Oz desvenda segredos e "esqueletos" de quatro gerações de sonhadores, intelectuais, homens de negócios fracassados, reformistas, sedutores antiquados e rebeldes ovelhas negras. Uma ampla galeria de grotescos, patéticos, ingénuos, trágicos e extravagantes personagens, homens e mulheres, todos eles participantes do cocktail genético e das circunstâncias quase surrealistas do nascimento do homem que um inevitável momento de revelação transforma em romancista.

Um relato escrito na primeira pessoa por um homem que testemunhou o nascimento do seu país e que viveu na íntegra a sua turbulenta história. Celebridades históricas materializam-se em personagens autênticos, de David Ben-Gurion, um dos fundadores do Estado de Israel, ao lendário líder das organizações clandestinas e primeiro-ministro Menahem Begin, passando pelo gigante da poesia hebraica moderna, Saul Tchernichovsky , ou o laureado com o Nobel de Literatura, S. Y. Agnon.

Confesso, de Colleen Hoover


Ficha técnica
Título – Confesso
Autora – Colleen Hoover
Editora – Topseller
Páginas – 255
Datas de leitura – de 03 a 05 de outubro de 2016

Opinião
A segunda leitura que trouxe da última visita à biblioteca municipal é daquelas que exigem muito pouco esforço, ou seja, que se engolem rapidinho e que perfumam com um travo docinho os dias em que nos fazem companhia. Não são leituras provenientes de grandes obras. São leituras que vão ao encontro sobretudo do público feminino que se derrete por uma ternurenta história de amor, repleta de obstáculos que vão sendo ultrapassados até às últimas páginas, até ao previsível mas saborosíssimo final feliz, no qual a jovem cai nos braços do jovem amado e o céu promete o tão desejado “viveram felizes para sempre”.
Auburn vive há poucos dias na cidade de Dallas e está determinada a que a sua vida não fuja de maneira nenhuma ao rumo que traçou. Contudo, todos os seus planos e determinação começam a escapar ao seu controlo quando acidentalmente (ou não) entra no estúdio e na vida de um jovem artista chamado Owen. Desde o primeiro olhar que trocam que compreendemos que os dois estão destinados a viver uma intensa história de amor e que, por muitos obstáculos que o dia-a-dia lhes ponha pela frente, nada nem ninguém impedirá que essa história comece, cresça e amadureça.
Não sou a maior admiradora de este género de romances, sobretudo porque são, na maioria das vezes, muito previsíveis, a linguagem é algo superficial e alguns autores abusam na lamechice. Contudo, confesso que, de vez em quando, após leituras complexas e duras, apetece-me “ligar o piloto automático” e deixar-me levar por histórias simples, açucaradas e que me abrem um sorriso no rosto perante cenas com trocas de olhares, roçar de mãos, abraços que nos fazem esquecer o mundo e juras de amor eterno. E se a tudo isto acrescentarmos um protagonista masculino atormentado, com pinta de “bad boy” e que protege a amada a todo o custo, muito melhor!
Confesso possui todos estes ingredientes e proporcionou-me uma leitura muito agradável que devorei em pouquinho tempo. Como tal, não desiludiu. Gostei muito dos protagonistas, da forma como a autora os colocou no caminho um do outro e é óbvio que não fiquei indiferente à magia, ternura e intensidade dos sentimentos que os atraem e os “obrigam” a estar permanentemente agarradinhos. Outra “mais-valia” da obra é a profissão de Owen, a originalidade daquilo que o motiva a pintar as suas telas e os exemplos das mesmas que surgem ao longo do livro. Por fim, considero que os diálogos estão bem elaborados (apesar de algumas exceções, para mim algo forçadas), adequados à idade dos protagonistas e à do correspondente público-alvo da obra.
Por tudo o referido, não posso atribuir uma nota baixa a esta leitura. Correspondeu ao exigido – tudo bem mastigadinho, pouco esforço e uma história de amor que nos agasalha, nos contagia e nos pede que partilhemos ternura com quem nos rodeia!
Termino deixando um vídeo de uma canção que traz cumplicidade a uma das primeiras cenas partilhada pelos dois protagonistas - Hold on, de Alabama Shakes:


NOTA – 08/10

Sinopse
Auburn Reed tem toda a sua vida planeada. Não há espaço para erros ou imprevistos. Até que, um dia, entra num estúdio de arte e conhece Owen Gentry, o enigmático artista dono do estúdio.
 Auburn sente, de súbito, que algo muda dentro dela e decide deixar-se levar pelo coração.
 Owen, contudo, guarda segredos que não quer ver revelados. As escolhas do seu passado não parecem permitir-lhe um futuro livre, e Auburn tem demasiado a perder se decidir lutar por ele. A única forma de não pôr em risco tudo o que é importante para si é deixar Owen. Confessar é tudo o que ele tem de fazer para salvar a relação de ambos. Mas, neste caso, a confissão pode ser muito mais destrutiva do que o próprio pecado.
 Será o amor capaz de sobreviver à verdade?
 Confesso é uma história de imenso amor e coragem, que nos faz acreditar em segundas oportunidades.
 Inclui 8 páginas a cores com as ilustrações dos quadros de Owen.

A lua de Joana, de Maria Teresa Maia Gonzalez


Ficha técnica
Título – A lua de Joana
Autora – Maria Teresa Maia Gonzalez
Editora – Verbo
Páginas – 157
Datas de leitura – de 30 de setembro a 02 de outubro de 2016

RELEITURA

Opinião
Na última visitinha à biblioteca municipal, trouxe comigo duas leituras que me permitiriam fazer um intervalo entre leituras mais “adultas” e complexas. Decidi não retirar da estante a obra que a cronologia ditava como sendo a próxima e aproveitar o espólio da biblioteca da terrinha para “esgueirar-me” para mundos mais juvenis e narrativas teoricamente mais simples e mais “mastigadinhas”.
Li A lua de Joana há muitos, muitos anos, com a idade “certa” para ler este livrinho que aborda um tema complexo e muito, muito atual. Recordo-me que não foi a primeira leitura que fazia sobre as drogas, já que me iniciei no tema com outra narrativa bem mais “pesada” e dura, como é a de Os filhos da droga (outra releitura que farei um dia destes), mas recordo que a franqueza, a inocência e o carisma de Joana me conquistaram, já que na altura teríamos a mesma idade e o seu mundo era semelhante ao meu. A escola, as disciplinas, as opções de nono ano, os colegas estereotipados (as manas Lopes cuscas, o João Pedro “armado” em sabichão e outros), os músicos e bandas de eleição, a leitura como companhia para todos os momentos, a importância de uma avó na nossa vida são exemplos da referida semelhança e foram preponderantes para que me rendesse à narrativa não só quando a li pela primeira vez como agora, passados tantos anos.
Para quem desconhece, A lua de Joana é uma leitura epistolar. Toda a narrativa, à exceção de um texto que a encerra, está composta por cartas que Joana escreve a Marta, a sua melhor amiga que não sobreviveu à passagem pelo mundo das drogas. Para tentar superar esta perda ainda inconcebível e incompreensível, para manter a ligação única e especial que as unia, Joana inicia um “diálogo” epistolar com a sua melhor amiga um mês após a sua morte e nele relata-lhe tudo o que se passa consigo e com os que a rodeiam. É um relato singelo, muito, muito próximo daquele que, por exemplo, eu faria se tivesse a idade da Joana e quisesse desabafar com aquela amiga a quem contaria tudo, tudinho.
A protagonista é o protótipo de uma adolescente dos anos noventa e obviamente dos dias de hoje. Os seus interesses, as suas atitudes, a importância que dá à amizade, a ânsia que demonstra em querer um ambiente familiar estável, a sinceridade que põe em tudo que questiona, a certeza que tem em verdades que para ela são incontestáveis fazem com que a obra que maravilhosamente escreveu Maria Teresa Gonzalez há mais de vinte anos não perca a sua atualidade, mesmo que não tocasse no tema da droga.
Considero assim que é redutor afirmar que A lua de Joana é uma obra sobre a droga. É verdade que o uso de estupefacientes é o fio condutor da narrativa. É por causa da droga e do seu consumo que roubou a Marta da sua vida que Joana lhe começa a escrever cartas quase diariamente. Mas também é verdade que esta correspondência epistolar nos permite entrar no mundo destas duas amigas, conhecer o dia-a-dia de Joana, filha de uma família de posses, mas que anseia com todas as suas forças que a atenção que os seus progenitores lhe dedicam não passe por ofertas de relógios e peças de roupa caras que se acumulam no armário. Permite-nos, como pais, compreender pequenos sinais que os nossos filhos vão deixando “ao acaso” e que gritam por uns minutinhos de gestos e atitudes de “pai e mãe”. E dá-nos ainda a possibilidade de percebermos um pouco melhor aquilo que poderá levar um adolescente, um jovem ou um adulto a recorrer a estupefacientes para fugirem de uma realidade que não os faz felizes.
 A lua de Joana é, por tudo o que referi e muito mais, uma leitura preciosa, para ler e reler por miúdos e graúdos. Tive o privilégio de lê-la como miúda e graúda e arrebatou-me quando tinha quinze anitos e agora, já mais crescida. Não tenho dúvidas em dizer que a autora mostra conhecer como poucos aquilo que caracteriza a fase da adolescência, que esse conhecimento transparece na construção das personagens, do seu mundo, das suas vivências, gostos, preocupações e linguagem e que por tudo isto concordo plenamente que esta obra faça parte das leituras aconselhadas pelo Plano Nacional de Leitura.
É assim óbvio que recomendo A lua de Joana para pequenos e grandes. Proporcionará a todos uma leitura especial, daquelas que conquistam um cantinho só delas na nossa estante e na nossa memória!

NOTA – 10/10

Sinopse
Plano Nacional de Leitura
Livro recomendado para o 8º ano de escolaridade, destinado a leitura orientada.

      Ao lermos a «Lua de Joana», não podemos deixar de pensar na forma como, muitas vezes, relegamos para segundo plano aquilo que realmente é importante na vida. Este livro alerta-nos para a importância de estarmos atentos a nós e ao outro, e de sermos capazes de, em conjunto, percorrer um caminho que conduza a uma vida plena…Foi já há quinze anos que «A Lua de Joana» foi publicada. Com mais de 300 000 exemplares vendidos nas suas inúmeras edições, com traduções em seis países, impôs-se como uma referência incontornável na literatura juvenil portuguesa e mundial.

Balanço mensal - livros lidos e adquiridos em setembro


Setembro é mês de Feira do Livro na “minha” Invicta. Apesar de ainda não ter “abraçado” este novo modelo do certame (sinto muitas saudades do formato anterior – em maio, com stands das editoras e o apoio da APEL), nunca resisto ao seu chamamento e durante umas horas de um dia percorro todas as “barraquinhas” de caderninho na mão, em busca de leituras com muito sabor e a preços apetitosos.
Este ano saí de lá carregada com três livrinhos que foram as únicas aquisições deste mês que findou. Depois de muito negociar com o maridinho, sempre à espera que ele me dê carta-branca para cometer loucuras literárias, resolvemos repartir equitativamente os gastos. Sendo assim, comprámos Uma praça em Antuérpia, um livro ao qual o N. já piscava o olho há algum tempo e As horas distantes, da maravilhosa Kate Morton e que veio para as minhas mãos pela deliciosa maquia de dez euritos. A terceira aquisição foi mais pensada porque teria que ser um livro que agradasse de igual forma aos dois. No stand da editora Tinta da China fomos saudados por um dos romances que mais me atrai ultimamente e que saberia que daria ao N. a oportunidade de ler sobre a Guerra Civil espanhola na perspetiva de um autor espanhol. Contudo, para nossa surpresa e desagrado, As vozes do rio Pamano, de Jaume Cabré estava apenas com dez por cento de desconto (inacreditável, numa Feira do Livro, que o desconto seja igual ao que podemos ter em qualquer supermercado ou livraria…) e, como tal, optámos por comprar Eu Confesso, do mesmo autor, e cuja sinopse nos prometia uma entrada em grande no mundo deste escritor catalão.
A meados do mês a mamã presenteou-me com a quarta e última obra nova que habita na minha estante. Ao contrário do habitual, a minha querida B. sentiu-se tentada pelo mundo das letras literárias e adquiriu o último livro de Joel Neto – A vida no campo. Leu-o (suspeito que na diagonal…) e, como sabe que tenho paixão pelo autor, não viu inconveniente nenhum (pelo contrário) que o mesmo viajasse da sua estante para a minha. Poderias fazê-lo mais amiúde, mummy ;)
No que diz respeito às leituras e tal como tem vindo a acontecer, setembro repetiu os números de agosto e de outros meses anteriores. Li cinco livros, um deles partilhado com o filhote e outro uma releitura.
Não poderia ter aberto o mês da melhor forma. O segredo da casa de Riverton confirmou aquilo que suspeitava – que Kate Morton sabe como enfeitiçar o leitor e que, uma vez atrapados nas teias das suas suculentas narrativas, de lá nunca mais sairemos nem queremos fazê-lo. Uma das leituras do ano. Sem qualquer tipo de dúvida.
É normal que a leitura que se segue a uma tão absorvente sofra por comparação. Ainda por cima as expectativas eram altíssimas e por isso a queda foi bem mais dolorosa. A minha estreia nas letras de Ana Margarida de Carvalho, com Que importa a fúria do mar, não foi auspiciosa e manter-me-á, até que algo ou alguém me convença do contrário, distanciada de outras obras suas. Não gostei o barroco que impregna o seu estilo literário e sei que esse travo amargo que deixou como rasto me impediu de acarinhar personagens enigmaticamente saborosas como Joaquim, o protagonista.
Para travar a minha sede de não ver diminuir a prateleira dos livros por-ler e porque Almudena seria a escolha acertada para recuperar de uma leitura mais frouxa, voltei às releituras com uma das “minhas” autoras. Reli Los aires difíciles, um calhamaço de quase 800 páginas e saí da mesmo revigorada, ainda mais apaixonada pela AG (como a minha querida Sofia a chama) e convencidíssima que há que reler TUDO o que tenho em casa escrito por esta autora fenomenal e que conhece como poucos o enredado que somos como seres humanos.
Terminei o mês regressando ao mundo de Patrícia Reis e lendo a sua última obra – Gramática do medo – escrita em parceria com Maria Manuel Viana. A sua escrita simples, poética e sentida voltou a agasalhar-me e a acariciar-me, mas não me senti plenamente confortável e aconchegada, talvez porque, por um lado, queria mais, queria respostas para portas abertas e nunca mais encerradas e por outro queria que outras nunca tivessem sido escancaradas.
O mês de setembro também pôr ponto final numa das leituras que vou partilhando com o filhote. Foi uma leitura que se arrastou de novo por muitos e muitos dias e que serviu para confirmar que, por muito que o D. goste de ler, gosta ainda mais de outros passatempos mais entusiasmantes. Serviu ainda para que ele mostrasse vontade de continuar com as suas leituras de uma forma mais independente, ainda que suspeite que as mesmas continuarão a demorar o seu tempo a chegar ao fim.
Cinco leituras e quatro aquisições. Setembro foi assim um mês bem preenchido. Espero que o vosso também tenha sido.
Deixo-vos por fim o link que vos permite aceder à opinião completa das obras lidas este mês:
§  O segredo da casa de Riverton, de Kate Morton
§  Que importa a fúria do mar, de Ana Margarida de Carvalho
§  Los aires difíciles, de Almudena Grandes
§  Gramática do medo, de Patrícia Reis e Maria Manuel Viana
§  Planeta Terra, de autores vários

Gramática do medo, de Maria Manuel Viana e Patrícia Reis


Ficha técnica
Título – Gramática do medo
Autoras – Maria Manuel Viana e Patrícia Reis
Editora – Dom Quixote
Páginas – 172
Datas de leitura – de 25 a 30 de setembro de 2016

Opinião
Patrícia Reis é inquilina cá de casa há muitos anos e ocupa um cantinho especial e considerável na estante. Em junho adquirimos a sua última obra e lá tivemos que alargar os seus aposentos para que ela e a sua convidada – Maria Manuel Viana – coubessem numa estante que está a rebentar pelas costuras.
Aos oito romances já comodamente instalados na prateleira juntou-se este escrito a quatro mãos e com uma capa perturbadora, polémica e da qual, ao primeiro contacto, afastamos o olhar mas que, a posteriori, nos obriga a espreitá-la e a conferir os seus detalhes aberrantes. Conta-nos a história de duas amigas inseparáveis, cuja amizade se pinta com elementos e sentimentos complexos, absorventes, que poderão causar alguma estranheza e deixar algum leitor incomodado. Mariana e Sara são amigas inseparáveis desde que se conheceram e aparentemente não escondem segredos uma da outra. Contudo, quando uma delas decide desaparecer sem deixar rasto, a que fica amputada de amiga, irmã e do seu avesso compreende que afinal existiam gavetas e alçapões fechados e dos quais apenas Mariana possuía a chave.
Patrícia Reis sempre me habituou a obras povoadas por uma escrita muito poética, rica em detalhes e carregadinha de emoções. E Gramática do medo não é exceção, provando que o “seu casamento” com uma autora que até agora eu desconhecia foi abençoado pelos deuses da literatura nacional. Há passagens belíssimas que disso são espelho como esta que aqui transcrevo e que descreve a amizade de Mariana e Sara:
Estamos presas uma à outra pela mesma miséria, a falta de bondade dos outros, a história com P. e todas as outras que se seguiram. As que não te contei, tu adivinhaste. As tuas são fáceis de perceber, pelo menos para mim, nesse entendimento que temos, secreto, um pacto, que congela todas as traições e, só por isso, tu falas, tu contas, tu expões. E eu oiço. Oiço com atenções e faço perguntas e tu respondes, nunca deixas de responder.” (pág. 33)
A amizade de Mariana e Sara não deixará nenhum leitor indiferente. A mim não me deixou. A dependência que as une, a sensação física de estar incompleta se a outra não está por perto são o fio condutor de uma narrativa escrita a duas vozes e que nos possibilitam deter um conhecimento omnisciente dos mais variados ângulos da vida passada e presente das duas amigas. Os capítulos vão alternando entre Sara e Mariana e de uma forma creio propositada levaram-me mais do que uma vez a certificar-me de que quem havia desaparecido fora a Mariana e não a Sara, tal a ambiguidade patente na descrição das duas, na fusão de características físicas e inclusive na troca de identidades.
Estamos perante uma obra onde tudo se esbate, onde pouca coisa tem contornos muito definidos e onde imperam contrastes, antagonismos, relações pautadas por um lado pela indiferença, distância e apatia e, por outro, pela dependência, pela união e por um medo irracional de ver-se separado, de laços quebrados, sem o seu avesso. Desde relações supostamente normais até aquelas condenadas, anti-natura, a obra serve-se de Mariana e Sara para levar-nos a questionar até que ponto a nossa identidade está amarrada aos outros, ao social, ao comum.
Reconheço que gostei de regressar às letras de Patrícia Reis. Não foi a obra de que mais gostei, talvez porque deixa muitas pontas desatadas e porque lhes acrescenta uma “espécie de epílogo” na minha opinião desnecessário. Por isso e apesar de concordar que a riqueza da sua escrita não perdeu o seu emotivo sabor, aconselho os leitores que desconhecem esta autora a lerem as suas obras mais antigas porque embarcarão em narrativas carregadas de originalidade, uma escrita que nos embala e que transpira muita emoção.

NOTA – 08/10

Sinopse

Amigas inseparáveis, Mariana e Sara partilham tudo desde que se conhecem (um curso de teatro e cinema, uma carreira difícil, amigos, ex-namorados, dinheiro e um quotidiano nem sempre fácil), até ao dia em que uma delas desaparece, misteriosamente, durante um cruzeiro pelo Mediterrâneo. Poucas são as pistas que deixa atrás de si mas, numa demanda que a irá levar a correr mais de metade da Europa, Sara tenta encontrá-la. O que vai descobrindo leva-a a perceber que, afinal, há muita coisa na vida da amiga que desconhece. Porque desapareceu Mariana, que fantasmas a perseguiam, do que quis fugir? Numa viagem simultaneamente interior e geográfica, esta é também a história do desaparecimento do sujeito na civilização actual, da dissociação da vida comum, da fragmentação da memória e da ténue fronteira entre ficção e realidade.