Regressar a casa, de Rose Tremain

Domingo, 25 de outubro de 2015




Opinião
Os emigrantes de hoje em dia não são os mesmos de há vinte, trinta ou mais anos atrás. Atualmente quem emigra (o nosso país é um claro exemplo disso mesmo) leva consigo “um diploma nas mãos”, habilitações elevadas e muitas das vezes emigra sozinho. Mas, tal como Lev, o protagonista de Regressar a casa, quem deixa o seu país natal deixa-o em busca de uma vida melhor, em busca da merecida estabilidade. E, tal como Lev, leva na bagagem imagens, sabores, cheiros, momentos que ternamente (e eternamente) o amarrarão à terra que deixou, à gente que deixou, à vida que deixou para trás.
Lev é um homem na casa dos quarenta que se vê obrigado a deixar a sua Rússia natal e aventurar-se numa viagem de horas sem fim por essa Europa fora até ao destino que elegeu como aquele que lhe poderá oferecer a oportunidade que tanto necessita – elegeu Inglaterra para aí tentar encontrar trabalho e poder aí amealhar uma quantidade de libras que lhe permita enviar uma maquia mensal aos que deixou na sua aldeia e pôr algumas de lado. É esse o seu objetivo – aproveitar-se de um mercado de trabalho que ainda acolhe gente de outros países, trabalhar longas horas, ganhar o seu e regressar com os bolsos cheios ao seu país, à companhia da sua família, dos seus amigos.
As mais de 400 páginas retratam assim a jornada emigrante de Lev, mas não se ficam por aí. Deixam-nos ser como uma sombra que continuamente segue as pisadas de Lev, labuta lado a lado com ele nos vários empregos que o russo vai tendo, incentiva-o quando o cansaço e o desalento se apoderam dele e principalmente sente e partilha os seus sonhos, os seus projetos, as suas tristezas e as saudades que Lev, como qualquer emigrante desterrado num país distante, sente de uma forma assaz dorida e sofrida.
Lev é pai. É viúvo. É filho. E estas amarras sentimentais dão-lhe o alento que necessita para não desistir. Ganha vigor e segue em frente com mais ânimo e garra quando recebe um desenho ou uma mensagem simples da sua filhinha de cinco anos. Tem uma dolorosa consciência de que o seu regresso a casa não poderá ser adiado nem relegado para um futuro longínquo porque a distância quebra laços, a distância faz com que esqueçamos, com que o espaço e o lugar de quem partiu e de quem ficou pouco a pouco se vão esbatendo e talvez sendo substituídos… Por tudo isto e porque sempre deixou que o sonho comandasse os seus atos, Lev sabe que não pertence a Londres, a Inglaterra, que por muito que este país o tenha acolhido, não é a sua pátria, não é em terras inglesas que estão as suas raízes, a sua âncora. E há então que encurtar a sua passagem por terras de Sua Majestade, pois a milhares de quilómetros estão os seus, a sua filhota Maya que apela para que o seu papá volte para casa e que, sendo tão pequenina, precisa que o pai esteja a seu lado, já que não tem memórias suficientes para lembrá-lo por tempo indefinido.
É óbvio que Regressar a casa é uma obra de e sobre emigrantes. O título, a narrativa, tudo aponta nessa direção. Mas é igualmente um bom livro sobre sonhos, sobre separação, sobre saudades dos que partem e dos que ficam, sobre sofrimento e sobre a vontade que comanda a vida de qualquer pessoa que quer o melhor para si e para os seus. É igualmente uma obra que nos faz estabelecer pontes com as histórias de emigração que habitam em muitíssimas das nossas famílias e que nos faz questionar se teríamos a coragem e a garra de deixar uma vida para trás e começar outra em outro lugar, com outras pessoas, outros costumes, outra língua… Eu provavelmente não teria…
Para terminar, quero agradecer à minha amiga “gastabromas” Vera por me ter emprestado este livro (Gracias, Verinha J) e tenho que partilhar convosco a canção que, na minha opinião, melhor define a dor e saudade de um emigrante e traduz na perfeição o porquê de eu não me ver nesse papel (pelo menos não de uma forma “voluntária”). Aqui fica Para os braços da minha mãe, de Pedro Abrunhosa, com a participação de Camané (a ver se desta vez não choro):


NOTA – 08/10

Sinopse
Lev, um homem ferido pela vida, parte da Europa de Leste para a Grã-Bretanha, à procura de um recomeço para si e para a sua família. Perseguem-no as memórias dolorosas da mulher falecida, da filha de cinco anos e do extravagante amigo Rudi, que sobrevive, sonhando com o Ocidente.
Em Londres, vagueando pelas ruas hostis e pelos pubs tribais daquela estranha cidade, encontra a promessa de amizade, amor, dinheiro e uma nova carreira.
 Mas a voz da filha habita o coração e a mente de Lev, e fá-lo duvidar se conseguirá realmente pertencer a algum lugar.

Tenho medo, Papá. Quando voltas para casa? Quando?

Não estou a conseguir ler duas obras ao mesmo tempo...

Terça-feira, 20 de outubro de 2015





Depois de mais de duas semanas a tentá-lo, tenho que render-me às evidências... Não está a ser possível ler duas obras ao mesmo tempo... São várias as razões para este "falhanço" - as minhas 24 horas diárias (como as de muita gente) não são elásticas e entre trabalho fora de portas, trabalho dentro de portas, maridinho e filhote a quem adoro encher de mimos no pouco tempo que desfrutamos juntos, álbum digital para terminar até o final deste mês, atualizações no blogue e no caderninho que sempre me acompanha (desprezado desde o final de agosto...), a leitura da obra A beleza e a dor da guerra foi avançando aos soluços. Uma, duas, cinco páginas lidas por dia e um marcador de página que "reclama" por não ser movimentado…
Bem tentei reverter o que intuí desde o início que não iria ser “uma obra levada a bom porto”. Determinei que iria ler a obra de Peter Englund nas poucas horas livres que vou tendo entre aulas, preparação de aulas e que leria a outra obra que me iria fazendo companhia à noite, no aconchego do sofá ou dos lençóis. A regra foi sendo cumprida, mas… conforme os dias iam passando cada vez mais a aldrabava… sobretudo por culpa de O violoncelo de Sarajevo que me absorveu irremediavelmente…
Agora que já estou com outra obra em mãos, sinto-me bastante culpada quando me dou conta de que nem me recordo de onde vi pela última vez o livro de Peter Englund e que tenho que correr as divisões da casa à sua procura… Nenhuma obra merece tal tratamento, muito menos esta que aborda uma temática tão entusiasmante como a da Primeira Guerra Mundial.

Sendo assim, vou devolvê-la à estante e espero resgatá-la brevemente e acarinhá-la com o mimo e o respeito que merece.

O violoncelo de Sarajevo, de Steven Galloway

Sexta-feira, dia 16 de outubro de 2015





Opinião
Podes não ter interesse na Guerra,
mas a Guerra tem interesse em ti.”
                                                        Lev Trotski

Na página imediatamente antes do início da narrativa de O violoncelo de Sarajevo encontrei-me com esta citação e logo ali pressenti que a Guerra, mais uma vez, me iria envolver nas suas teias e não me iria deixar escapar…
E não me resta outro remédio senão dizer que assim foi. Eu tenho um interesse quase doentio pela Guerra, uma antitética e perfeita mistura de atração e repulsa e, tal como já o referi em outras opiniões de livros “bélicos”, não consigo (nem quero) opor-lhe qualquer resistência. Permito que a Guerra me procure, me encontre, me faça sua prisioneira, porque desse “encarceramento voluntário” saio alguém mais completo, mais frágil, mais emotivo, mas sobretudo mais entendedor da complexidade e tortuosidade que nos compõem como seres humanos.
É claro que quando decidi comprar esta obra (de um autor até agora desconhecido) o fiz porque a sua temática, a sua sinopse e as opiniões sobre a mesma me seduziram. Não poderia ser de outra forma. Contudo, tenho que bendizer de maneira muito especial a hora em que o fiz, porque O violoncelo de Sarajevo é uma obra sublime, de mestre, que seguramente figurará na lista das melhores leituras deste ano.
É uma obra sublime porque nos agarra com a simplicidade da sua narrativa, conduzida magistralmente por um autor que, à semelhança de um maestro, nos presenteia um relato feito a quatro mãos e que nos magoa, se entranha em nós pelo cenário onde se desenrola, por uma ação que privilegia o íntimo, o que se passa no interior de cada personagem e, não menos importante, pelo não cair no melodramático tão facilmente associado a histórias de guerra, pela contenção que se respira ao longo da toda a obra.
É igualmente uma obra sublime porque nos chega através de capítulos dedicados a três personagens anónimas e que demonstram, através da narração do seu dia-a-dia, o quanto o povo, a gente que habita uma cidade e não possui meios para fugir, sofre com os horrores de uma guerra ditada por governantes, generais ou afins e que sempre escapam à miséria, à fome, à perda dos direitos mais essenciais à vida de um ser humano.
É ainda uma obra sublime porque despertou em mim aquela vontade de saber mais, de compreender o que esteve por detrás de mais uma guerra despoletada por ódios ancestrais, por ambições inexplicáveis e por vontades de independências que têm que ser concretizadas a todo o custo. Uma das provas do quanto o autor foi genial está nas pistas que vai deixando cair ao longo da obra e que me “obrigaram” a ler frequentemente ao lado de um computador ligado para, num clicar rápido, poder conseguir (ou tentar) entender o Cerco de Sarajevo e a guerra dos Balcãs. Pouco ou nada na obra nos diz claramente quem são “os homens nas colinas”, o porquê de Sarajevo ter sido sitiada e bombardeada durante quase quatro anos e de o conflito nos Balcãs ter tido lugar sobretudo aí, na capital do estado da Bósnia-Herzegovina. São poucas as passagens da obra que a isso fazem referência, mas as que existem são maravilhosamente simples e certeiras e levaram-me a querer saber mais:
A Sarajevo pela qual lutava era uma cidade onde uma pessoa não era obrigada a odiar outra por causa daquilo que essa pessoa era. Não importava aquilo que se era, quem tinham sido os antepassados ou o que seriam os filhos.” (pág. 107)
A Sarajevo real é aquela onde as pessoas eram felizes, se tratavam bem umas às outras, viviam sem conflitos? Ou é a Sarajevo que vê hoje, onde as pessoas se tentam matar umas às outras, onde balas e bombas voam das colinas e os edifícios se desmoronam?” (pág. 164)
O violoncelo de Sarajevo é, por fim, uma obra sublime porque partiu de algo real:
Às quatro da tarde do dia 27 de maio de 1992, durante o Cerco de Sarajevo, diversas granadas de morteiro atingiram um grupo de pessoas que estava na fila para comprar pão, atrás do mercado da Rua Vase Miskina. Vinte e duas pessoas morreram e, pelo menos, setenta ficaram feridas. Durante os vinte e dois dias seguintes, Vedran Smailovic, um famoso violoncelista de Sarajevo, tocou no mesmo local o Adágio em Sol menor, de Albinoni, em honra dos mortos.” (pág. 171)
Partiu de algo real, de um gesto tão pungente de alguém que assim quis demonstrar que a vida humana vale, tem valor para a própria pessoa e para os outros, sejam próximos a essa pessoa ou que não a conheçam. Partiu de algo real, entrelaçou o verídico com o ficcional e narrou a rotina de uma cidade sitiada, constantemente aterrorizada com as mortes diárias de gente que, em gestos tão banais como os de atravessar uma rua, poderia perder a vida porque aos “homens nas colinas” assim lhes apetecia – apontavam a mira da espingarda, faziam pontaria e ceifavam, indiscriminadamente, a vida de homens, mulheres, crianças, animais, enfim de todos aqueles inocentes que, por azar do destino e por falta de outra alternativa, tinham que (sobre)viver numa cidade devastada por mais uma guerra inexplicável…
Termino dizendo que esta obra é sublime porque fez-me querer (e querer muito) visitar Sarajevo, percorrer as suas ruas e prestar-lhe a homenagem que penso que merece.
A esta leitura só posso assim dar-lhe nota máxima e desejar que o maior número possível de leitores a leia! Comprem a obra, peçam-na emprestada, requisitem-na numa biblioteca, mas, por favor, leiam-na!!!
Partilho ainda o maravilhoso, fantástico e dorido Adágio em Sol menor, de Albinoni, que tão importante foi para a criação desta obra e sobretudo para aqueles que assistiram a Vedran Smailovic a tocá-la nos 22 dias que se seguiram a (mais) um dia sangrento do Cerco de Sarajevo.


NOTA – 10/10 (nota merecidíssima)

Sinopse

O Violoncelo de Sarajevo é um relato ficcionado do cerco feito a Sarajevo entre Abril de 1992 e Fevereiro de 1996. Apoiado em factos reais, dá a conhecer o intenso drama vivido pela população de Sarajevo, onde foram mortas mais de dez mil pessoas e feridas mais de cinquenta e seis milhares. Por detrás da sua janela, um violoncelista não podia prever o que iria acontecer: 22 pessoas mortas à sua frente num tiroteio enquanto esperavam na fila para a ração de pão. Em sua homenagem o violoncelista toca sentado no meio da rua o Adágio de Albinoni durante 22 dias seguidos e sempre à mesma hora. Surge no entanto a notícia de que há um plano para assassinar o músico em plena atuação, quando faltam apenas dois dias para que complete as 22 sessões.

Atualizando a lista de livros que têm que cair na estante cá de casa…

Terça-feira, 13 de outubro de 2015




Entrar numa livraria (como a da imagem, em São Paulo) e esquecer o mundo que continua a girar cá fora… Eis um dos maiores prazeres da minha vida… Um prazer quase orgâsmico, tal é a mistura de emoções que me domina… Uma mistura que, admito, se assemelha àquela que deverá dominar qualquer adicto, embora a que me assola não tenha chegado a níveis prejudiciais à saúde… só prejudicam um bocadinho a conta bancária, nada mais J
Ora, com o final do ano e o Natal a aproximarem-se, nota-se que o frenesim das publicações está a atingir o seu auge. Todos os dias vejo novidades ou nas livrarias ou sobretudo online e se, por um lado, não absorvo tudo (não consigo nem quero, porque nem tudo me agrada), por outro, estou já contagiada por tal frenesim e até tremo de entusiasmo!
Sendo assim, sou “forçada” a atualizar a minha “wishlist” com as mais recentes novidades e com outras que, tendo sido já publicadas há mais tempo, só nos últimos tempos “se apresentaram” a mim, piscando-me o olho e pedindo-me que as traga cá para casa J!
Das novidades selecionei estas (clicando no nome, acedem à correspondente sinopse):
§  Assim começa o mal, de Javier Marías (já o queria em espanhol, mas aqui em casa a tradução é sempre muito bem-vinda)
§  O amante japonês, de Isabel Allende (sinopse ainda não disponível)
§  História de quem vai e de quem fica, de Elena Ferrante (o terceiro volume de uma tetralogia que me deixa em polvorosa – já li o primeiro, já tenho o segundo e há que comprar o terceiro)
§  Flores, de Afonso Cruz
§  Os anagramas de Varsóvia, de Richard Zimmler (nova edição)
§  Assim foi Auschwitz, de Primo Levi (nova edição)

         Também tenho muita curiosidade e vontade de me embrenhar na história destes que já cá andam há mais tempo:
§  Uma vida à sua frente, de Roman Gary
§  Meninas, de Maria Teresa Horta
§  Ambas as mãos sobre o corpo, também de Maria Teresa Horta
§  A invenção das Asas, de Sue Monk Kidd
§  Vamos aquecer o sol, de José Mauro de Vasconcelos (a continuação da história do inesquecível Zezé, de Meu pé de laranja lima)
§  Rosinha, minha canoa, também de José Mauro de Vasconcelos
§  Arquipélago, de Joel Neto

         São obras que quero mesmo muito, de autores que ou já me acompanham há algum tempo ou que anseio conhecer. E a vontade é tanta, mas tanta que o facto de ter mais de quinze obras novas para ler não me consola… E assim, reina a referida mistura de emoções. Contraditórias, é verdade, mas que condimentam a minha rotina e lha dão aquele sabor J

         Agora, só me resta refrear-me, ir aproveitando as promoções (mas não abusar, pois não, maridinho?) e acreditar que o Natal encherá o meu cantinho debaixo da árvore com alguns pacotinhos quadrados ou retangulares, pesadotes e que estejam embrulhados com papel identificativo de alguma livraria J

A rapariga das laranjas, de Jostein Gaarder

Sábado, 10 de outubro de 2015





Opinião
A rapariga das laranjas chegou cá a casa na companhia de O décimo terceiro conto, ou seja, com cinquenta por cento de desconto no preço J e com uma sinopse que prometia uma leitura curtinha, mas intensa. Intensa de emoções que nos tocam a todos daquela maneira tão significativa e poderosa. Falo das emoções que nos unem a todos, pois todos somos filhos de alguém e alguns de nós já fomos abençoados com o milagre da maternidade e da paternidade.
Até hoje nunca tinha lido nada escrito por Jostein Gaarder. Sempre me recusei a ler a sua obra mais conhecida – O mundo de Sofia – por teimosia e porque sempre fui e continuo a ser avessa às filosofias… Mas, ao deparar-me com a promessa de um diálogo entre um pai falecido há mais de dez anos e um filho a quem a doença lhe privou de ver crescer, baixei a guarda, pus de lado as reservas que tinha contra o seu autor e embrenhei-me na sua descoberta.
Foi uma descoberta que, em algumas passagens, me absorveu e que, em outras, nem tanto. Os contornos e essência da história são tocantes, é dolorosa a noção de que os protagonistas são pai e filho, que este se viu privado daquele quando apenas tinha quatro anos e que, como tal, apenas o conhece por aquilo que os outros lhe dizem e lhe mostram. Não pude deixar de me pôr no lugar do progenitor e partilhar a sua dor de saber que vai morrer e não vai poder estar mais ao lado da “sua namorada” e do “seu melhor amigo”. Contudo, a forma como esse conteúdo nos chega a nós, leitores, deixa, na minha opinião, algo a desejar… Gostei da estrutura epistolar, do legado em palavras que o pai deixa ao filho, mas senti que em geral a linguagem e em particular algumas passagens são rebuscadas, sem a simplicidade que considero ser a característica mais importante num diálogo entre seres unidos por laços estreitos de sangue. Posso não estar a explicar-me da melhor maneira, mas a belíssima história que pai conta a filho e consequentemente aos leitores seria ainda mais bela e chegaria a nós mais límpida e completa se as palavras que a compõem fossem singelas, naturais, simples e se cingissem ao que é ao fim e ao cabo a essência da existência de um pai, de um filho e de outras pessoas que os rodeiam e amam.
O meu lado maternal emocionou-se, mas o meu lado de leitora, mais pragmático, sentiu-se algo defraudado… Queria mais, ou melhor, menos… Menos “rococó” e mais sentimento, mais intimidade, mais simplicidade, mais rotina, enfim, mais vida, mais realidade…

NOTA – 07/10

Sinopse
O que fazer quando um pai, falecido demasiado cedo para nos lembrarmos dele, decide falar com o filho, através de uma carta escrita há onze anos? Esta é a experiência de Georg Roed, de quinze anos, quando a família descobre a carta do seu pai. Juntos, Georg e o pai vão dialogar e manter finalmente a conversa de adultos que não puderam ter em vida. Nessa carta, Jan Olav, o pai de Georg procura uma bela rapariga carregada com um saco de laranjas. Nada o demove, nem o facto de não saber nada dela, nem o nome. Procura-a com todo o entusiasmo da juventude, enquanto imagina qual a razão que a leva a atribuir um valor tão grande às laranjas que ele, desastradamente, fez rolar nesse primeiro encontro. Georg mergulha nesta aventura descrita com grande paixão pelo pai, falecido quando ele tinha apenas quatro anos.

Autor do bestseller internacional O Mundo de Sofia que em 1995 foi o romance que mais vendeu em todo o mundo, registando 25 milhões de cópias, Gaarder traz-nos em A Rapariga das Laranjas um romance mais direcionado ao público jovem. Através de uma belíssima carta de amor para um filho de quem o pai sabe que não poderá acompanhar o crescimento, esta obra é um hino à vida e ao mistério insondável que ela encerra.

O décimo terceiro conto, de Diane Setterfield

Terça-feira, 06 de outubro de 2015




Opinião
O título O décimo terceiro conto já figurava há bastante tempo no caderninho onde aponto os livros que quero trazer para casa. Mas por esta ou por outra razão, foi sendo “ultrapassado” por outros títulos que ia apontando… Foi assim remetido para um canto obscuro de minha wishlist e confesso que quase já não me lembrava que um dia a sua sinopse “se tinha metido comigo”.
Ora, redimi-me desta falta “imperdoável” em junho quando aproveitei uma deliciosa campanha da Editorial Presença e pude adquirir três livros a metade do preço J Enquanto cuscava todos os livros em promoção, tropecei no título de O décimo terceiro conto e tive logo a sensação de que me era familiar. Folheei o caderninho e lá estava ele, “perdido” entre títulos já com o visto de comprados. É claro que não hesitei e procedi à sua encomenda! E ainda bem que o fiz J
A ordem cronológica das minhas leituras ditou que só agora o pudesse saborear e há que dizer que os três meses que esta obra de Diane Setterfield esperou para que eu a retirasse da estante nada lhe retiraram de sabor. Aliás, para mim é esse o segredo da minha mania cronológica – sinto uma alegria especial, misturada com a compreensível expetativa de percorrer as lombadas dos livros que ainda não li e ter aquela noção de que eles estão ali, só à espera que eu lhes pegue e assim me possam fazer companhia durante o tempo que leve a lê-los… É um jogo de sedução que nunca me canso de jogar J
E assim foi com O décimo terceiro conto… Uma narrativa intensa, que narra encontros e vidas de gerações distintas, sobretudo de duas mulheres com um amor incondicional pelos livros e pela literatura. Biógrafa amadora, Margaret é filha de um alfarrabista e toda a sua existência gira à volta de livros que contam uma história, ficcional ou verídica, escrita por autores famosos ou desconhecidos, mas que têm o condão de lhe trazerem, de lhe oferecerem alguma coisa, por mais insignificante que seja. Sente uma particular predileção por obras do século XIX, como a Paixão de Jane Eyre, O Monte dos Vendavais ou A Mulher de Branco, e oferece bastante resistência quando o seu pai lhe propõe autores e obras mais contemporâneas. Contudo, essa resistência cairá por terra quando, surpreendentemente, é contactada por carta por uma autora famosa, Vida Winter, que lhe pede para escrever a sua biografia.
Este convite inesperado produzirá uma reviravolta nos interesses literários de Margaret e principalmente na sua pacata existência. Nos dias que passará a ouvir e a registar a história de vida de Vida, a jovem biógrafa será espetadora e personagem de acontecimentos extraordinários (alguns fantasmagóricos), carregados de dramatismo, de tensão, de nervos à flor da pele e de relações intensas, doentias, que nos fazem recuar no tempo e recordar as histórias e amores sofridos de Catherine e Heathcliff ou de Jane e Mr. Rochester. Tudo isto aliado a um ritmo vivo e a uma saborosa vontade de querer saber mais, que obviamente nunca deixam de prender a nossa atenção e nos “obrigam” a ler mais um pouco, mais uma página, mais um capítulo…
Por tudo isto, O décimo terceiro conto é uma obra a ler por todos que “se pelem” por uma boa e entusiasmante narrativa, pois, como já referi, possui os ingredientes suficientes para nos cativar. A história é suculenta, as personagens são redondas, complexas, surpreendentes e o fio condutor desenrola-se como, segundo Vida Winter, se deve desenrolar qualquer fio de uma boa história – começando pelo seu princípio, desenvolvendo-se, concluindo-se com o desenlace e rematando alguma ponta solta no indispensável “post-scriptum”. Para além disso, nesta obra não ficamos a matutar no que poderá ter acontecido a alguma personagem que não intervenha diretamente no desenlace ou seja secundária – Margaret, como boa biógrafa e narradora que é, não nos deixa na dúvida e informa-nos do que sucedeu a todas as personagens que intervieram na sua narrativa, por que “Todos temos uma história. É como a família. Podemos não saber quem ela é, podemos tê-la perdido, mas existe na mesma. Podemos distanciar-nos ou virar-lhe as costas, mas não podemos dizer que não a temos.” (pág. 269)
É um livro que vale a pena conhecer. Atrevam-se e não se irão arrepender J

NOTA – 09/10

Sinopse
O Décimo Terceiro Conto narra o encontro de duas mulheres: Margaret, jovem, filha de um alfarrabista, biógrafa amadora, e Vida Winter, escritora famosa, que, sentindo aproximar-se o final dos seus dias, convida a primeira para escrever a sua biografia.
Na sua casa de campo, a escritora decide contar a verdadeira história da sua vida, revelando um passado misterioso e cheio de segredos. As duas vão partilhar vivências profundas, resgatando velhas memórias e confrontando-se com fantasmas há muito adormecidos.


Sem que pudessem inicialmente prever, acabam por entrelaçar as suas vidas de forma tão intensa, que o resultado não poderia ser outro que não uma inesquecível história de amor, amizade e solidão.

Balanço mensal - livros lidos e adquiridos em setembro

Domingo, 04 de outubro de 2015



O regresso à rotina profissional foi custoso (como sempre é), mas em nada maculou o meu ritmo de leitura. Até dia 27, “consumi” cinco livros e todos eles me marcaram significativamente. Voltei ao mundo triste e dorido de João Tordo e conheci personagens embrulhadas na sua própria dor, sem perspetivas nem sonhos, mas que, mesmo não querendo, se veem impulsionadas a sobreviver e abrir frinchas da sua vida à esperança. Entrei pela primeira vez no mundo de três autores que ainda não moravam cá em casa e para todos eles arranjei um cantinho muito especial na minha estante, aquele género de cantinho que os acolhe com um abraço que não mais se desfaz. Elena Ferrante, David Foenkinos e Carmen Laforet são assim meus inquilinos efetivos porque me ofereceram momentos literários densos, complexos, com uma linguagem, por um lado, crua e dura e, por outro, doce e poética. Por fim, admito que, no rescaldo de duas leituras seguidas de narrativas densas e muito tortuosas, me vi obrigada a aventurar-me nos meandros da lamechice e… não é que gostei?...
Aqui ficam então os links para poderem aceder às opiniões das referidas leituras:
§  A amiga genial, de Elena Ferrante
§  As recordações, de David Foenkinos
§  O luto de Elias Gro, de João Tordo
§  Nada, de Carmen Laforet
§  Corações em silêncio, de Nicholas Sparks

Quanto às aquisições, há que dizer que, para todas, aproveitei promoções realizadas pela Bertrand, pela Fnac e Feira do Livro. Neste certame, adquiri A balada de Adam Henry, de Ian McEwan, no dia B, promovido pela Bertrand, Mar humano, de Raquel Ochoa, e O último cais, de Helena Marques e finalmente, através do site da Fnac, o segundo volume da tetralogia de Elena Ferrante – História do novo nome – e Perguntem a Sarah Gross, de João Pinto Coelho.
Todas as obras têm sinopses cativantes e muitas delas me foram recomendadas por amigos ou por opiniões de blogueiros a que simplesmente não resisti J São cinco obras que apetece afagar, que me piscam o olho quando as folheio e que certamente não me irão defraudar J

Não posso deixar de finalizar este balanço sem mostrar o meu desagrado perante a lei que entrou em vigor este mês e que não permite que livrarias e supermercados façam promoções com livros que tenham sido publicados há menos de 18 meses. Tenho consciência de que o objetivo da referida lei é proteger as livrarias mais pequenas, mas, apelando ao meu egoísmo e à frustração de não poder mais comprar todos os livros que quero a um preço mais baratinho, tenho que afirmar que leis como estas são um pesadelo para qualquer livrólico que se preze. E mais não digo…