Recomeçar, de María Dueñas

Sábado, 25 de abril de 2015




Opinião
Com a celebração do quadragésimo primeiro aniversário da Revolução de Abril como pano de fundo, encerrei a leitura de Recomeçar de María Dueñas.
Sabia de antemão, por conversas partilhadas com compinchas e amigas literárias, que esta segunda obra da autora espanhola não me ia deslumbrar como a da sua estreia – a magnificamente arrebatadora O Tempo entre costuras. Na verdade, Recomeçar teria que ser um romance quase perfeito, tal foi a sofreguidão com que li a história do seu antecessor e me entreguei nas mãos da sua protagonista, seguindo-a como uma sombra por terras marroquinas, espanholas e portuguesas e absorvendo a sua fascinante história de vida.
Contudo, tentei pôr estas comparações de lado e dar uma oportunidade o mais imparcial possível à narrativa que a própria autora assim apresentou: «Três anos depois da publicação de O Tempo entre Costuras, volto a bater à porta dos leitores com a história e a voz de uma mulher. Uma mulher contemporânea, cuja estabilidade, aparentemente invulnerável, se desvaneceu no ar. Chama-se Blanca Perea e decidiu fugir».
Com um ritmo muito mais desacelerado, Recomeçar está escrito maioritariamente na primeira pessoa e transporta-nos para Madrid dos finais do século, mais propriamente para o ano de 1999, mas em poucas páginas faz-nos atravessar o oceano, os Estados Unidos e deixa-nos em Santa Cecília, Califórnia, onde se desenrolará grande parte da sua ação. Será lá que aterrará Blanca Perea, que, num impulso, aceita “uma missão universitária” a milhares de quilómetros da sua cidade natal para fugir de uma vida matrimonial desfeita a qual, num repente, a deixou sem chão e sem norte. Com um trabalho enfadonho, entediante e desinteressante (ordenar e organizar o espólio de um professor universitário, seu conterrâneo e já falecido) e enfiada num minúsculo gabinete, quase sem comunicação com o exterior, Blanca tenta viver (ou talvez sobreviver) dia após dia, fazer o que tem a fazer, não dar descanso ao corpo para que depois possa deitar a cabeça na almofada e dormir para esquecer…
Contudo, por muito que lutemos contra a vida, por muito que tentemos construir defesas que nos permitam não voltar a sofrer, é impossível não trocar umas palavras com quem se cruza connosco todos os dias, não apreciar a beleza de um magnífico dia de sol, não sorrir perante uma turma de alunos entusiasmadíssimos por aprender mais sobre a língua e culturas espanholas e não baixar a guarda perante um convite quase irrecusável de uma colega que nos afaga com um sorriso e uns olhos cheios de compreensão. Blanca é apenas humana e, pouco a pouco, deixa de sentir os seus dias maioritariamente preenchidos por ressentimento, estupefação e dor e abre-os a novas experiências, a novas amizades e à convivência com papéis, apontamentos e textos que a fazem querer conhecer mais e melhor a vida pessoal e universitária do seu conterrâneo, Andrés Fontana.
Neste ponto, parece-me importante referir que, para mim, o referido ritmo mais desacelerado desta obra se coaduna muito bem com o quanto custa recomeçar, deixar para trás o que era até então a nossa vida e ter que reestruturarmo-nos e começar de novo. É um recomeço que é sempre lento, doloroso e feito passo a passo, mais a mais quando a sua protagonista é uma mulher madura, experiente, menos ingénua e menos otimista face ao futuro.
Não deixo de concordar com algumas críticas/opiniões que afirmam que Recomeçar falha como romance por ser um pouco previsível, por pecar no pouco que nos oferece de mistério, de passagens estimulantes e de um ritmo intrépido e por possuir fragmentos que podiam ser eliminados. Contudo, também não posso deixar de contrabalançar esse lado menos positivo e realçar o quanto gostei de acompanhar muito de pertinho o recomeçar de Blanca e de seguir a evolução de outra personagem importante – Daniel Carter – sobretudo o “largo recorrido” que realizou por uma Espanha em plena ditadura franquista. Um “largo recorrido” que a ele o fez apaixonar-se ainda mais por esse país e a mim me fez, mais uma vez, agradecer a liberdade que se comemora no dia de hoje.

NOTA – 08/10

Sinopse

Recomeçar atravessa fronteiras e épocas para nos falar de perdas, coragem, segundas oportunidades e reconstrução. Uma história luminosa que desenrola intrigas imprevistas, amores entrecruzados e personagens cheias de paixão e humanidade.

Blanca é professora, com uma carreira consolidada, dois filhos jovens. A braços com o fracasso do seu casamento, decide deixar a sua atual vida para trás e ruma a Santa Cecília, na Califórnia, com a missão de organizar o espólio deixado por Andrés Fontana à Universidade; fechada num sótão sombrio, Blanca vê- se a braços com uma tarefa aparentemente hercúlea e cinzenta, mas que acabaria por revelar-se uma empreitada emocionante.

Amores cruzados, certezas e interesses silenciados que acabam por vir à tona, viagens de ida e volta entre Espanha e EUA, entre o presente e o passado de duas línguas e dois mundos em permanente reencontro.

Dia mundial do Livro

Quinta-feira, 23 de abril de 2015





Um livro é…

Já tinha prometido a mim mesma. Se hoje estivesse bom tempo iria celebrar o Dia mundial do Livro junto ao mar. E assim o fiz.
Com a banda sonora apropriada, o carro conduziu-me e estacionou-me mesmo em frente àquela que foi considerada uma das praias mais bonitas da Europa. Miramar deu-me as boas-vindas com uma “bofetada” de maresia que me arrancou um daqueles suspiros de satisfação e uma vontade quase incontrolável de descalçar-me e de sentir as cócegas da areia e da água entre os dedos.

Caminhei pelo passadiço de madeira, espreitei esplanadas, mas acabei por sentar-me numa rocha perdida no areal. Aí, sozinha, sem ninguém a meu lado, sem conversas nem distracções inoportunas, enrosquei as pernas, virei costas ao calorzinho bom do sol e abri o livro. Durante mais de uma hora, foi a minha companhia, o meu mimo, o meu xi. E, como sempre, não me senti sozinha. Pelo contrário. Fui lendo, fui ouvindo o “murmúrio” das ondas, fui recordando outros momentos, outras épocas, outras companhias e sentindo-me viva, feliz, completa.

Não me lembro da minha vida sem a companhia dos livros. Mas tenho a noção e a prova do ponto de viragem, de quando tudo começou – no 3º ano da Escola Primária, no 2º período, no chamado Boletim de Informação ao Encarregado de Educação, a minha querida professora Maria do Céu escreveu na Apreciação Global:

A minha mamã não se fez rogada e seguiu o conselho da professora. Por tal, só posso agradecer às duas, sobretudo à minha “Bertininha” que acompanhou e financiou os meus anos de criança, adolescente, jovem devoradora de livros.
Com os livros nunca estou sozinha. Entre folhas, páginas, parágrafos e palavras encontro a companhia perfeita, viajo sem sair do conforto do meu ninho (seja ele o meu lugar no sofá, o meu lado da cama ou uma rocha perdida num areal de primavera), converso com as mais variadas pessoas (encarnadas em personagens de todos os países, de todas as cidades, de todas as idades, de todas as ideologias, de todas as religiões), entendo melhor o mundo e as pessoas que me rodeiam e sobretudo sei que os livros abrem-me as portas dos sonhos e do melhor que podemos levar desta jornada.
Por tudo isto, mais uma vez o afirmo – eu não conseguiria viver sem os meus livros. Eles são uma parte demasiado importante de mim mesma, não me saberia definir sem eles.

Agora que partilhei (uma vez mais) o significado que os livros têm para mim, espero que o façam também, comigo ou com quem preferirem J

A praia roubada, de Joanne Harris

Domingo, 19 de abril de 2015



RELEITURA

Opinião
Voltei ao mundo de Joanne Harris. Tive que fazê-lo. Não resisti e li mais um dos seus romances. E, mais uma vez, rendi-me de muito boa vontade ao talento desta escritora. Sim, A praia roubada voltou a conquistar-me, tal como o havia feito em 2002, quando o meu maridinho (ainda meu namorado) mo ofereceu como prendinha de Natal.
Tenho consciência de que a adoração que sinto pelas obras de Joanne Harris não é partilhada nem por livrólicos como eu, nem por aqueles que vão lendo com menos voracidade. Quando comento que estou a reler alguma das suas obras, as reações que obtenho são contraditórias. Há aqueles que se identificam de imediato com o meu entusiasmo e a minha “febre” e há aqueles que só com o olhar, com um trejeito, mostram que não entendem como posso “desperdiçar” o meu tempo a ler (e quanto mais a reler) Cinco quartos de laranja ou A praia roubada.
A minha estante é dona de 10 obras desta autora e estaria a mentir se dissesse que mal posso esperar para reler todas elas. Não morro de amores por obras como O rapaz de olhos azuis (o seu romance menos conseguido, na minha opinião), Valete de copas e dama de espadas ou Sapatos de Rebuçado (que fica muito aquém do seu antecessor – Chocolate). Mas o que nestes peca, sobressai em doses generosas de entusiasmo, originalidade e tramas emocionantes nas duas obras que reli este ano e que me provocam aquele frenesim de não querer parar as releituras, apesar de a minha estante me tentar com mais de duas mãos cheias de leituras novas!
Tal como em Chocolate e Cinco quartos de laranja, A praia roubada traz-nos uma protagonista feminina, jovem, dotada de talento (neste caso para a pintura) e que regressa às suas origens depois da morte da mãe. Mado, ou Madeleine Prasteau, viveu durante dez anos em Paris na companhia da sua progenitora, mas, mal esta falece, sente um irresistível chamamento que a faz regressar à sua ilha natal, Le Devin, onde deixou muitas recordações e o seu pai.
Desde que o ferry que a transporta atraca no porto de La Houssinière, Mado compreende que algumas mudanças se operaram naquele lado da ilha, que as condições de vida melhoraram, que as infraestruturas turísticas trouxeram desenvolvimentos consideráveis mas que infelizmente essas mudanças não se espalharam a Les Salants, ao “seu lado” da ilha, à aldeia natal da sua família. É assim recebida como já antevia, ou seja, por uma comunidade que vê com desconfiança o seu regresso, que se fecha a qualquer vestígio de renovação, que se resigna aos desígnios da natureza e que supersticiosamente aponta a culpa de qualquer desaire aos habitantes mais prósperos do outro lado da ilha.
Por muito que se sinta salanaise, Mado resiste a ser mais um e vai tentando navegar contra a maré, plantando teimosamente a semente da mudança, nem que seja aquela que poderia trazer a união e um sentimento de comunidade a uma aldeia de costas voltadas entre si e para o mundo. Ao mesmo tempo, luta outra batalha, aquela que lhe é mais próxima – reaproximar-se do pai, de um GrosJean mais silencioso, mais sorumbático, mais arredio, mais derrotado que nunca. Contará como aliado nestas duas batalhas com o misterioso Flynn, que, por incrível que lhe possa parecer, em pouco tempo conseguiu o que ninguém havia conseguido antes – ser “adotado” pelos habitantes de Les Salants e ser brindado com aquilo que é reservado apenas a quem é salanais de nascimento – uma alcunha – Ruivo.
Tudo isto que referi até agora é somente o ponto de partida de uma narrativa que prima por possuir aquilo que nos prende de tal forma que nos faz querer ir rapidamente de página em página para descobrir segredos do passado e do presente, o desenlace de projetos arriscados; conhecer cada vez melhor Mado, partilhar do seu sofrimento, das suas tentativas desajeitadas de reunir-se ao pai, sentir empatia por ela e desdém pela sua irmã, torcer para que deixe de carregar o mundo inteiro nos seus ombros e para que a sua sobrevivência, a sua vida não dependa de um estado de crise permanente. Eu fui, como já havia sido aquando da primeira leitura, “vítima” do poder desta narrativa empolgante e arrebatadora, pois não consegui largar o livro este fim de semana e “devorei” mais de 200 páginas entre umas horas de ontem e umas de hoje!
As obras que já reli de Joanne Harris têm assim este magnetismo, esta capacidade, esta mestria de me satisfazerem por completo e de me “obrigarem” a não parar de as ler. São fascinantes, de certa forma originais, com temas e cenários nada banais e com personagens fortes, marcantes, que ao carregarem uma bagagem sofrida, não nos deixam indiferentes, pelo contrário, levam-nos a querer ampará-las, a estender-lhes a mão e a fazer a caminhada necessária ao seu lado.
Aconselho vivamente a quem ainda não se deixou atrair pelo mundo literário de Joanne Harris a não esperar mais e àqueles que tiveram uma menos boa experiência com algum dos seus livros a dar-lhe mais uma oportunidade. Seguramente que não se arrependerão J

NOTA – 10/10

Sinopse

Encerradas numa pequena ilha na costa do Atlântico, duas comunidades vivem de costas voltadas entre si. Enquanto La Houssinière se transformou numa cidade próspera devido ao turismo que a única praia de toda a ilha lhe proporciona, Les Salants permaneceu esquecida no tempo, habitada apenas por pescadores e marinheiros que, tal como a vida que levam, são rudes e amargos. Mado nasceu em Les Salants, mas cedo partiu com a mãe para Paris. Após a morte desta, a jovem decide voltar à ilha da sua infância e reencontrar o pai. Mas o regresso ao passado não é fácil. A ilha, constantemente varrida por um vento inclemente, encerra em si todo um universo de mistérios e contradições, inacessíveis a uma "desconhecida". Mas, estranhamente, tal parece não ter acontecido com Flynn, um jovem irlandês que, embora recém-chegado, é alvo da afeição e da confiança de todos, até do pai de Mado, um homem cujo coração está fechado para o mundo e que se mantém teimosamente recolhido num silêncio sepulcral. Face a uma comunidade fechada, supersticiosa e apostada em manter acesos ódios ancestrais, Mado decide desafiar a sorte e as marés e consegue vencer o orgulho e as crenças dos habitantes de Les Salants. Juntos, vão tentar mudar o futuro da povoação e o seu próprio destino. Para Mado, esta vai ser uma incursão no amor e o (re)encontro com os valores familiares e comunitários. Poderá um castelo de areia sobreviver às marés? Inspirado na ilha onde Joanne Harris passou alguns momentos da sua infância, A Praia Roubada transporta-nos de imediato para a nossa própria infância e, especialmente, para os inesquecíveis dias ociosamente passados à beira-mar. 

Os livros que devoraram o meu pai, de Afonso Cruz

Domingo, 12 de abril de 2015




Opinião
Num par de horas “papei” as 126 páginas do presente que o meu filhote me ofereceu no último Natal. Para além de ter uma dedicatória muito ternurenta e cheia de mimo (como ele sabe que a mãe ADORA), este livrinho é uma pérola de inestimável valor, porque tem aquele dom de, em poucas páginas, nos engolir, de nos devorar e de nos fazer compreender o quanto é preciosa, sem preço a afeição que devotamos aos livros. Uma afeição que nos faz saborear a vida com aquele prazer, aquele prazer que os livrólicos partilham entre eles e o objeto da sua adoração, do seu vício.
Num livrinho tão curtinho, não é de estranhar que todos os seus capítulos também o sejam. O que abre a obra apresenta-nos duas das suas personagens fulcrais – Elias Bonfim, narrador e protagonista, e sua avó, que será quem terá um papel preponderante na jornada que o seu neto empreenderá em busca de seu pai e do seu grande amor – os livros, pelos quais tinha tal obsessão que os levava consigo para todo o lado, inclusive para o local de trabalho, um “mundo entediante, chato, plano aborrecido, cheio de papéis, papeladas e outras burocracias…” (pág. 11).
Do pai, Elias apenas sabe o nome e o que lhe foram contando – a referida paixão imensurável pelos livros e que, um dia, um deles o devorou, levando ao seu desaparecimento e à orfandade do filho.
 Essa orfandade faz com que Elias se sinta desamparado, mas ao mesmo tempo curioso. E essa curiosidade será saciada quando a sua avó lhe entrega a chave da arca do tesouro – a chave de um sótão onde está encerrada a biblioteca do Vivaldo Bonfim. É então a partir desse dia que a rotina de Elias sofre uma reviravolta. Todos os dias sobe ao sótão, senta-se num cadeirão às riscas (o mesmo onde se costumava sentar o seu pai) e deixa que a sua alma de leitor viaje, literalmente se perca num emaranhado de letras, páginas, histórias. Essas viagens no espaço e no tempo são tão intensas, tão vívidas, tão reais que não consegue regressar e, quando o faz, é muito a custo, é só porque a voz da avó a chamá-lo o traz de volta ao tempo presente.
É sobretudo neste ponto que me identifico por completo com Elias. Desde pequena que sempre me foi muito difícil “cortar o cordão” com uma leitura que me estivesse a absorver totalmente. Fui repreendida inúmeras vezes pela minha mãe (tal como Elias) porque a comida arrefecia na mesa à minha espera, porque tinha que ir para a cama, porque tinha que estudar, porque… enfim, tudo porque não havia maneira de largar o livro. E como poderia fazê-lo? A saciedade só se instalava com o virar da última página e, mesmo assim, rapidamente desaparecia, pois havia mais um livro, mais uma história, mais umas personagens entusiasmantes para conhecer, para poder comparar com outras já conhecidas.
É por tudo isto que o vício das letras literárias não me larga e nunca me largará. A minha felicidade depende em muito dos livrinhos. E Elias finalmente compreendeu isso e juntou-se a nós, a mim, ao seu pai, a qualquer livrólico que ande por aí.
Os livros que devoraram o meu pai atraiu-me com o seu título (seria impossível não fazê-lo), mas conquistou-me com o seu conteúdo. Fartei-me de sublinhar passagens (deixarei aqui algumas), de sentir um carinho muito especial pela ligação que existe entre Elias e a sua avó (que saudades que tenho dos meus velhinhos) e de sentir uma invejazinha por nunca, enquanto adolescente, ter tido uma oportunidade tão maravilhosamente fantástica de ser dona de uma chave de uma biblioteca escondida num sótão, onde “estava tudo cheio de letras a fingirem-se de mortas, mas – sei muito bem – basta que passemos os olhos por elas para saltarem cheias de vida.” (pág. 21).
A minha estreia literária no mundo de Afonso Cruz foi assim MUITO auspiciosa e terá as devidas consequências J

NOTA – 09/10 (Não atribuo a nota máxima talvez porque estou a ser picuinhas e muito exigente, já que achei um bocadinho forçado o desenlace do melhor amigo de Elias…)

“… um bom livro deve ter mais do que uma pele, deve ser um prédio de vários andares. O rés-do-chão não serve à literatura. Está muito bem para a construção civil, é cómodo para quem não gosta de subir as escadas, útil para quem não pode subir as escadas, mas para a literatura há que haver andares empilhados uns em cima dos outros. Escadarias e escadarias, letras abaixo, letras acima.” (págs. 14/15)
As palavras dela vinham cheias de cabelos brancos, podia sentir que havia nelas muita vida vivida.” (pág. 18)
Para uns, a raiz é a parte invisível que permite a árvore crescer. Para mim, a raiz é a parte invisível que a impede de voar como os pássaros. Na verdade, uma árvore é um pássaro falhado.” (pág. 85)
Atravessar a Rússia significa percorrer onze fusos horários. Quando numa ponta do país é de dia, na outra é de noite. A Rússia é com a alma humana. Se tem um lado luminoso, é porque a outra ponta está no escuro. Somos todos feitos desta estranha mistura de fusos horários.” (pág. 86) 
Porque um homem é feito dessas histórias, não é de adê-énes e músculos e ossos. Histórias.” (pág. 126)

Sinopse

A estranha e mágica história de Vivaldo Bonfim.
Vivaldo Bonfim é um escriturário entediado que leva romances e novelas para a repartição de finanças onde está empregado. Um dia, enquanto finge trabalhar, perde-se na leitura e desaparece deste mundo.
Esta é a sua verdadeira história — contada na primeira pessoa pelo filho, Elias Bonfim, que irá à procura do seu pai, percorrendo clássicos da literatura cheios de assassinos, paixões devastadoras, feras e outros perigos feitos de letras.

Mal de amores, de Ángeles Mastretta

Sábado, 11 de abril de 2015





RELEITURA

Opinião
Ángeles Mastretta é mais um exemplo do quanto os escritores latino-americanos são exímios contadores de histórias. Na minha opinião, encaixa perfeitamente nesse grupo privilegiado, nesse grupo onde se encontram Isabel Allende, Luis Sepúlveda, García Márquez ou Laura Esquível.
Na minha estante, tenho há já alguns anos duas obras desta autora mexicana – a que acabei de reler e Arráncame la vida. Antes de decidir-me a reler uma delas, recordava que tanto uma como outra me tinham proporcionado momentos saborosos, recheados de amores quentes, vulcânicos e de descrições muito conseguidas da vida mestiça e tão característica de um povo resultante de tantas turbulências históricas.
A releitura de Mal de amores veio confirmar essas recordações. Dos finais do século XIX e princípios do século seguinte, chega-nos a história de três famílias – os Sauri, as Veytia e os Cuenca que serão testemunhas e de alguma forma protagonistas das grandes transformações que irão assolar o panorama político e social do México. A narrativa inicia-se com a história de amor à primeira vista que arrebata os corações de Diego Sauri e Josefa Veytia mas, à medida que avançamos nas suas páginas, outras personagens irão ganhando relevância no desenrolar dos acontecimentos, tais como Milagros, irmã de Josefa, e sobretudo Emilia, filha de Josefa e Diego, e o seu amor de infância (e de toda uma vida), Daniel Cuenca. Testemunharemos o amor e desvelo de mãe que Milagros tem para com Daniel (a quem nenhum laço de sangue a une, apenas a promessa feita à sua mãe de que velaria por ele); a cumplicidade, companheirismo e afeição inquestionáveis que existe na casa da família Sauri-Veytia; o carácter indomável e de feroz emancipação de Milagros, tão diferente do de sua irmã, mas, ao mesmo tempo, tão dependente da doçura algo ingénua de Josefa; as manhãs que Emilia desfruta ao lado de seu pai na sua botica, aprendendo avidamente tudo o que ele partilha com ela; os domingos passados em casa dos Cuenca, onde, entre tertúlias e espetáculos, se delibera sobre o que fazer para derrubar a ditadura de Porfirio Díaz, se discutem os avanços da medicina e a vida do pequeno Daniel e da sua amada Emilia ficam não só irremediavelmente ligadas uma à outra como também arrebatadas por paixões que os farão passar mais tempo separados que juntos – a política, os ideais de justiça e democracia e vocação de ajudar os outros, seja através de cuidados médicos, seja através de uma luta sem fim por um país melhor.
Mal de amores está assim repleto de ingredientes para oferecer-nos uma bela leitura. E realmente cumpre. Desfrutei muito desta releitura, pois, para além do que foi dito, a obra está salpicada de pormenores deliciosos, fruto de uma escrita simples, mas muito criativa, de uma mescla tão própria da cultura literária de escritores como os que referi no início desta opinião, onde a realidade está sempre interligada a um lado mágico, mais fervilhante, mais tropical, tão distinto da forma de viver da “velha” Europa. Por outro lado, é certo que os amores fogosos e insaciáveis de Emilia e Daniel são o prato principal deste romance, mas creio que muitos leitores poderão ser enganados, já que Mal de amores é um título que de imediato associamos a uma história de paixões não correspondidas ou mal resolvidas e a obra que dele resulta é realmente, e como já disse, uma história de amor, mas é muito mais do que isso. É um retrato de um país castrado por uma ditadura, tal como muitos países do continente latino-americano, de uma sociedade constituída por um povo mestiço, que bebeu as suas origens do lado de cá e do lado de lá do oceano Atlântico e que está farto de sofrer. Está farto de sofrer nas mãos de supostos heróis, que, vestidos ou não com fardas de generais e por muitos ideais de justiça e liberdade que levem consigo, se deixarão tentar pelos meandros do poder e da corrupção e farão mais do mesmo. Substituirão uma ditadura por outra.
Daniel, Diego e Milagros são as personagens que mais diretamente estão relacionados com a luta para derrubar o regime ditatorial que governa o México nos finais do século XIX e princípios do século XX. Primeiro lutarão com as palavras, discutindo entre si e outros que defendem os seus ideais, apoiando personalidades como Madero e indo aos seus comícios clandestinos. Depois, a revolução passará das palavras aos atos e Daniel juntar-se-á aos revoltosos e participará no conflito armado que se arrastará por anos e anos e que infelizmente não só não resolverá os gravíssimos problemas sociais e económicos que assolam o país como culminarão naquilo que Diego já havia vaticinado – “Os heróis trazem consigo ditaduras. É ver em que se transformou esse grande herói que o foi o general Díaz.” (pág. 131)
Neste ponto, não posso deixar de recordar e de associar ideias que são defendidas ou por Diego ou por Milagros ou ainda por Daniel – de que para derrubar um ditador, um regime opressor é necessária uma revolução, com ou sem armas – com um filme que me diz muito – Diarios de Motocicleta, que retratam uma viagem que Che Guevara fez pelo vasto território sul-americano (e ainda como apenas Ernesto de la Serna, um sonhador jovem argentino) e que fez germinar os ideais revolucionários que depois o caracterizariam.  Por um lado, percebemos que as fronteiras políticas que separam os países que constituem o vasto continente do antigo “Novo Mundo” são ilusórias, pois o povo é todo um mesmo povo mestiço, com sangue europeu, africano e indígena. Por outro, compreendemos também que essa mistura de sangues e de origens nunca trouxe uma convivência pacífica e foi e tem sido a causa de inúmeros e intermináveis revoluções, sempre com derramamento de sangue e poucas ou nenhumas mudanças. Por fim, comparando, por exemplo, a personagem de Daniel e Ernesto Guevara de la Serna, dois jovens entusiastas, idealistas, cheios de garra para conseguirem concretizar esses sonhos de justiça, liberdade, irmandade e no que os mesmos se transformaram após estarem diretamente envolvidos em revoluções armadas, as palavras de Diego voltam a fazer pleno sentido. Os heróis muitas vezes transformam-se em assassinos ou ficam para sempre contaminados por uma febre de combate, de lutar indefinidamente por algo em que talvez já nem acreditem que poderá ser realidade.
Por fim, deixo aqui algumas passagens da obra e um excerto de Diarios de Motocicleta, um filme que vale por si, mesmo para aqueles que, como eu, não apoiem os passos de Che Guevara, mas que não deixam de admirar e até invejar a viagem que ele protagonizou, com apenas 24 anos, por terras argentinas, chilenas, peruanas e venezuelanas.
“… viajar é uma forma de destino.” (pág. 43)
Daniel – dissera para si própria – podia dividir-se em dois: um era o que montava com ela num corno da Lua, o que ocupava todos os sonhos porque nenhum sonho era melhor do que a realidade quando ele a preenchia. O outro era um traidor que montava no cavalo da revolução para ir fazer a sua pátria noutro lugar que não a sua cama comum.” (pág. 201)
Mas a guerra contra a ditadura não se tinha revelado mais do que guerra e a luta contra os desmandos de um general não tinha feito mais do que multiplicar os generais e os seus desmandos.” (pág. 249)



NOTA – 09/10 (apenas porque não gostei muito do desenlace da história de Emilia e Daniel…)

Sinopse

A história de Emilia Sauri e Daniel Cuenca, cujas vidas se ligaram desde a mais tenra infância para atravessarem em sobressalto todas as peripécias da Revolução Mexicana. Com uma mestria inexcedível, Ángeles Mastretta oferece-nos o retrato de uma mulher tão frágil como aguerrida, que assoma ao mundo moderno despojando-se dos tabus e dos preconceitos que prendiam as suas antecessoras. Uma mulher que não só tem de enfrentar os tradicionais problemas domésticos e femininos, como também os combates políticos da vida do seu país. Uma mulher que se vê obrigada a levar uma vida dupla para poder, contra ventos e marés, ser fiel ao seu primeiro amor.

Cinco pães de cevada, de Lucía Baquedano

Sábado, 04 de abril de 2015




Opinião
De vez em quando, ou melhor dizendo, com bastante frequência, isto é, entre uma leitura e uma releitura, dou uma volta atrás no tempo e mergulho na inocência e simplicidade dos meus tempos de infância e adolescência. Faço-o relendo um livrinho com as folhas já amareladas e que me fazem espirrar a miúde, com capas repletas de desenhos que me fazem recordar os desenhos animados japoneses (onde todas as personagens são lindíssimas, com olhos que nos penetram a alma) e com o meu nome e a minha morada escritos com uma letra redondinha na primeira página. São releituras muito saborosas, com aquele travo docinho que se mantém comigo e que me permite recordar o quanto a minha felicidade depende da leitura e como os livros sempre foram e serão companheiros perfeitos.
Hoje fechei mais uma releitura de um desses livrinhos. Por sinal, um livrinho que me é muito especial, talvez porque é a súmula dessa inocência e simplicidade de que falei atrás. É da autoria de uma escritora espanhola (da qual nunca li nada mais e que deve ser uma perfeita desconhecida para a maioria das pessoas) e a sua narrativa localiza-se talvez nos anos cinquenta ou sessenta (do século passado, obviamente) e em dois espaços distintos – na cidade de Pamplona e sobretudo numa aldeia chamada Beirechea, muito provavelmente situada na comunidade autónoma de Navarra. A protagonista, Muriel, é uma recém-formada professora primária que se vê inesperadamente colocada na referida aldeia, onde tudo e todos, a princípio, lhe parecem inóspitos, rudes e nada sociáveis. Para piorar a sua situação, a pobre da Muriel descobre que terá que ensinar um punhado de meninos numa escola cujo “aspecto era dos mais tristes” e onde “mesmo no meio da aula havia dois ratos enormes que comiam qualquer coisa apressadamente” (pág. 20). Perante tal cenário, a nossa protagonista recusa-se a terminar o ano naquele lugarejo e promete a si mesma que seguirá o destino das suas antecessoras, que também não haviam aguentado semelhantes condições. Contudo, os dias vão passando e Muriel vai adiando a sua partida até que se apega com tanta força aos seus escolares, aos habitantes da aldeia e a uma paisagem que lhe fala ao coração que decide não contrariar o que já estava predestinado – o seu lugar era ali, naquela aldeia perdida, tentando fazer a diferença com os seus alunos. E fá-la-á. Com determinação e com a ajuda enriquecedora dos livros.
Com os livros, Muriel não só conquistará os seus escolares como também alguns adultos, para quem a leitura era uma perda de tempo. Conquistá-los-á devagarinho, tenazmente e sem se render, mesmo quando todo o esforço parece inglório. Mas não será só Muriel a trazer mudanças para Beirechea. Será também a aldeia a conseguir suavizar o temperamento algo vaidoso e teimoso da “escanifrada” professorinha e a mostrar-lhe que onde ela via rudeza e antipatia, afinal existia timidez e alguma falta de tato para lidar com quem é “forasteiro”.
Pelo que fui dizendo até este ponto, não é difícil compreender por que motivo este livrinho ocupa um lugar especial no meu cantinho das leituras. Para além da profissão que me une a Muriel (embora os meus escolares sejam um bocadinho mais crescidos), o amor e a plena certeza de que os livros podem mudar a vida de alguém (seja em que idade for) é outra mais-valia que nos traz Cinco pães de cevada. O terceiro aspeto (e não menos importante) é a simplicidade e singeleza da sua escrita, que por essa mesma razão me toca muito e me leva às lágrimas em algumas das suas passagens.
Cinco pães de cevada faz-me viajar para vários espaços e vários tempos – leva-me consigo até a uma Espanha rural, até uma aldeia, que mesmo sendo fictícia, me faz caminhar pelas suas montanhas, pelos seus campos cultivados, pelos seus caminhos estreitos, pelos cheiros e sons das diversas estações e me faz conviver com os seus habitantes simples e com carácter. Ao mesmo tempo, transporta-me à minha infância, também ela passada entre montes, campos cultivados, animais e gente simples e honrada. É assim um livrinho no qual se misturam harmoniosamente elementos nostálgicos, belos, perfeitos!

Este livrinho é assim um tesouro que muito estimo J

NOTA – 10/10 

Dispara, eu já estou morto, de Julia Navarro

Quinta-feira, 02 de abril de 2015



Opinião
Há momentos na vida em que a única forma de nos salvarmos a nós próprios é matando ou morrendo.
Dispara, eu já estou morto é o segundo romance que leio de Julia Navarro. O primeiro li-o há três anos, (podes aceder aqui à opinião sobre Diz-me quem sou - http://osabordosmeuslivros.blogspot.pt/2014/08/diz-me-quem-sou-de-julia-navarro.html) e recordo-me de ter “devorado” as suas mais de mil páginas e de ter seguido com entusiasmo (e sofreguidão até) as peripécias da vida da sua protagonista. Assim, é óbvio que o ter considerado essa leitura tão empolgante exerceu uma influência tremenda na compra do romance mais recente da autora.
Há entre as duas obras vários pontos em comum. Ambas recorrem a um jornalista que, perante um desafio profissional, viaja em busca de vidas de gente comum que, por azares do destino, se viram envolvidas em acontecimentos extraordinários e obrigadas a travar batalhas mais ou menos gigantescas. A Europa volta a ser o palco desses acontecimentos, embora em Dispara, eu já estou morto, a Palestina seja o espaço primordial. Finalmente, tanto num romance como no outro, a ação vai avançando com as entrevistas/diálogos que Guillermo (em Diz-me quem sou) e Marian (em Dispara, eu já estou morto) vão entabulando com várias personagens.
Infelizmente, no meu ponto de vista, as semelhanças terminam por aqui… Enquanto, e tal como já referi, em Diz-me quem sou, a narração é vívida, empolgante e está aliada a um ritmo impetuoso, que nos faz querer sempre avançar mais e mais uma página, em Dispara, eu já estou morto a leitura chega a tornar-se penosa, pois peca por nos presentear com 830 páginas, onde a autora “nos inflige” lições de História umas atrás das outras em que as mesmas superficialmente estão entrelaçadas com uma análise mais profunda e íntima das estórias dessa gente comum que protagoniza a obra.
É indiscutível que tenho um “fraquinho” por romances históricos, já que juntam o útil ao agradável, ou seja, transmitem-nos conhecimento, fazem-nos saber mais do que se passa ou se passou no mundo que nos rodeia e, ao mesmo tempo, entretêm-nos, como aliás deve ser o principal objetivo de qualquer livro de ficção. Ora, este romance de Julia Navarro cumpre na perfeição o primeiro requisito, mas falha no segundo… Para quem, como eu, tenha muito poucas luzes do que esteve e está por detrás do conflito entre israelitas e palestinianos, a narrativa explica detalhadamente o que esteve na sua origem, como se formaram os dois estados e principalmente o que existia (desde o início do século XX) antes da sua formação. Contudo, o detalhadamente, o pormenorizadamente não existem naquilo que na verdade separa o romance, uma obra de ficção de uma de não-ficção. Falta profundidade nas relações entre personagens, faltam amores proibidos (até os há, mas tão murchinhos…), falta ritmo à narrativa, os temas dos diálogos repetem-se, as peripécias nas vidas das personagens são descritas de uma forma insossa, enfim seria necessária uma revolução em quase toda a obra para que a sua leitura se tornasse bem menos maçadora.
Mas nem tudo é negativo. Por um lado, o desenlace é inesperado, é uma lufada de ar fresco e faz-nos compreender o título da obra e o mote da mesma – “Há momentos na vida em que a única forma de nos salvarmos a nós próprios é matando ou morrendo.” Por outro, o antepenúltimo capítulo – o mais extenso da obra – foi o que mais me cativou, talvez porque aborda (com um ritmo mais vivo e uma análise mais conseguida) a Segunda Grande Guerra, a intensa e temerária oposição que a Resistência francesa ofereceu aos nazis e as desumanas experiências que estes últimos levaram a cabo contra os judeus nos campos de extermínio.
Sendo assim, tendo em conta o que já disse, não posso recomendar muito esta obra, a não ser para quem aprecie o género, isto é, uma obra que é quase de não-ficção…

NOTA – 05/10

Sinopse

Um romance extraordinário sobre o conflito israelo-árabe retratando personagens inesquecíveis, cujas vidas se entrelaçam com os momentos-chave da história a partir do final do século XIX a meados do século XX, e recriando a vida em cidades emblemáticas como São Petersburgo, Paris e Jerusalém. Aqui Julia Navarro conduz o leitor através de relações duras de homens e mulheres que lutam por uma parcela de terra onde possam viver em paz.

O mês de março foi farto em aquisições literárias!

Quarta-feira, 01 de abril de 2015




O mês de março foi farto! É com uma satisfação e um sorriso do tamanho do mundo que compartilho aqui as últimas aquisições, os últimos livros que aterraram na minha estante:
No dia em que comemorei 12 anos de casadinhos, o meu maridinho mimou-me (como já é tradição) com mais um livro. Desta vez, o eleito foi um que constava da minha wishlist e que me tinha sido recomendado pela Ana Sofia, uma das minhas compinchas literárias – A mulher certa, do autor húngaro Sándor Márai. Nunca li nada dele, mas mal posso esperar, porque tudo que me é recomendado pela Sofia não desilude J
Para celebrar em grande o Dia do Pai, o D. e eu presenteámos o homem da nossa vida com O cavaleiro inglês, um romance histórico, escrito pela autora portuguesa Carla Soares (que tem vindo a afirmar-se na nossa literatura) e que vai, sem dúvida, oferecer ao N. uma entusiasmante viagem ao final do século XIX português.
Sempre que viajo ao país vizinho, não resisto. Tenho que passear pelas livrarias que vou encontrando e deixo-me irremediavelmente seduzir (como poderia não deixar?...) pela amplíssima oferta da literatura de nuestros hermanos. Ora, a recém viagem que fiz à capital madrilena depositou na minha bagagem três livros de bolso de três autores espanhóis – Te llamaré Viernes, da minha querida Almudena Grandes; Blanca vuela mañana, de Dulce Chacón (li dela, há uns anos, La voz dormida, emprestada pela minha Nancy e “delirei”!) e Retrato de un hombre inmaduro, de Luis Landero e cuja sinopse me arrebatou J
Cinco livros. Cinco rasgos de felicidade. Cinco momentos (que podem durar mais dia menos dia) que me farão viajar para outros mundos, para outros tempos, para outras vidas… É assim o sabor dos meus livros J

Para já (mas mesmo para já), a saciedade reina… Mas não será por muito tempo, pois hoje inicia um novo mês – 30 dias que, quem sabe, poderão traduzir-se em novas aquisições literárias J J