Vamos juntos ver mais longe?, de Anny Duperey

Sábado, 02 de maio de 2015



RELEITURA

Opinião
Com Vamos juntos ver mais longe, faço uma pausa nas releituras. Não porque esta última tenha sido uma desilusão, mas sobretudo porque a quantidade de livros novos que tenho na minha estante começa a ser considerável e, se continuar com o esquema de leitura seguida de releitura que tenho levado a cabo até aqui, chegarei ao Natal deste ano e ainda estarei a ler livros que recebi em fevereiro ou março.
Decidi reler Vamos juntos ver mais longe pelas mesmas razões pelas quais reli as outras obras das quais já deixei no blogue a correspondente opinião – tinha a noção de que a sua primeira leitura me tinha agradado e queria recordar, voltar a desfrutar de uma narrativa da que apenas me lembrava estar dividida em quatro partes (cada uma dedicada a uma personagem) e em uma última e quinta parte, com o desenlace da história de Christine, Paul, Solange e Luc.
Para quem anseie por um romance leve, com episódios joviais e personagens despreocupadas e contentes com a sua vida, esta obra de Anny Duperey não deve ser opção para uma futura leitura. Christine, Paul, Solange, Luc, apesar de não se conhecerem, de terem modos e experiências de vida distintos, carregam com um fardo que os faz não olhar com otimismo para o presente e muito menos para o futuro. Todos eles têm uma existência marcada pela mágoa, pela descrença, pelo ressentimento ou por uma carga familiar que não os deixam ser felizes. Simplesmente vão sobrevivendo…
Sendo assim, em 222 páginas somos os destinatários das recordações, das divagações, monólogos interiores, pensamentos, constatações, confrontos e ou diálogos que os nossos protagonistas vão estabelecendo e partilhando. Tudo isto numa escrita primorosa e clara, que nos faz criar empatia com a crise de meia-idade de Christine, com a situação sofredora de Paul, com a jovem e neurótica Solange e com a vida resignada que Luc partilha com uma esposa depressiva e bipolar. É certo que as referidas 222 páginas não são de fácil “digestão”, porque não nos fornecem praticamente nada que se assemelhe a harmonia ou felicidade, mas “the best is saved for last” e, como tal, a quinta e última parte da obra traz-nos uma lufada de ar fresco e de otimismo, com quase todos os protagonistas finalmente em paz consigo próprios e com a sua vida, preparados para o que a vida lhes reserve e com vontade de “ver mais longe”.
Concluo dizendo que esta não foi a releitura que mais me encheu as medidas, talvez por ser uma obra, como referi, que retrata o lado mais difícil e menos cor-de-rosa da vida e que reli numa altura em que o trabalho “me consome”, mas não posso deixar de igualmente dizer que tem apontamentos ótimos, que o estilo da autora é muito bom e que “me condoí” imenso pela personagem de Paul (a minha favorita), dona de uma alma sensível, poética, amante de tudo o que é belo, mas que, por ironia, do destino, nasceu no seio de uma família de gente bruta, néscia, “de inteligência e sensibilidade curtas”…

NOTA – 07/10

Sinopse

Quatro personagens inesquecíveis, num romance que durante 32 semanas ocupou, em França, as listas dos livros mais vendidos.
Christine, chegada aos cinquenta anos, tem uma vida desafogada e tranquila. Uma vida quase perfeita, não fosse o vazio que a oprime e a mergulha num estado de permanente infelicidade. Paul trabalha no campo, é um homem sensível e doce, mas nunca conseguiu afastar-se da família – uma família de pessoas tacanhas, azedas e intolerantes. Nesse contexto, a vida de Paul é uma soma de frustrações quotidianas. Ainda que sem razão aparente, Solange, empregada dos caminhos--de-ferro franceses, vive de mal com o mundo. Um encontro inesperado durante uma viagem vai abalar irreversivelmente muitas das suas certezas. Vai ser também numa viagem, desta feita à Hungria, que Luc, conduzido a um estado de resignação e desespero por uma mulher destrutiva, vai encontrar coragem para reagir.

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