Quinta-feira, 02 de abril de 2015
Opinião
“Há
momentos na vida em que a única forma de nos salvarmos a nós próprios é matando
ou morrendo.”
Dispara,
eu já estou morto
é o segundo romance que leio de Julia Navarro. O primeiro li-o há três anos,
(podes aceder aqui à opinião sobre Diz-me
quem sou - http://osabordosmeuslivros.blogspot.pt/2014/08/diz-me-quem-sou-de-julia-navarro.html)
e recordo-me de ter “devorado” as suas mais de mil páginas e de ter seguido com
entusiasmo (e sofreguidão até) as peripécias da vida da sua protagonista. Assim,
é óbvio que o ter considerado essa leitura tão empolgante exerceu uma
influência tremenda na compra do romance mais recente da autora.
Há entre as duas obras vários pontos
em comum. Ambas recorrem a um jornalista que, perante um desafio profissional, viaja
em busca de vidas de gente comum que, por azares do destino, se viram
envolvidas em acontecimentos extraordinários e obrigadas a travar batalhas mais
ou menos gigantescas. A Europa volta a ser o palco desses acontecimentos,
embora em Dispara, eu já estou morto,
a Palestina seja o espaço primordial. Finalmente, tanto num romance como no
outro, a ação vai avançando com as entrevistas/diálogos que Guillermo (em Diz-me quem sou) e Marian (em Dispara, eu já estou morto) vão
entabulando com várias personagens.
Infelizmente, no meu ponto de vista,
as semelhanças terminam por aqui… Enquanto, e tal como já referi, em Diz-me quem sou, a narração é vívida,
empolgante e está aliada a um ritmo impetuoso, que nos faz querer sempre avançar
mais e mais uma página, em Dispara, eu
já estou morto a leitura chega a tornar-se penosa, pois peca por nos
presentear com 830 páginas, onde a autora “nos inflige” lições de História umas
atrás das outras em que as mesmas superficialmente estão entrelaçadas com uma análise
mais profunda e íntima das estórias dessa gente comum que protagoniza a obra.
É indiscutível que tenho um “fraquinho”
por romances históricos, já que juntam o útil ao agradável, ou seja,
transmitem-nos conhecimento, fazem-nos saber mais do que se passa ou se passou
no mundo que nos rodeia e, ao mesmo tempo, entretêm-nos, como aliás deve ser o
principal objetivo de qualquer livro de ficção. Ora, este romance de Julia
Navarro cumpre na perfeição o primeiro requisito, mas falha no segundo… Para
quem, como eu, tenha muito poucas luzes do que esteve e está por detrás do
conflito entre israelitas e palestinianos, a narrativa explica detalhadamente o
que esteve na sua origem, como se formaram os dois estados e principalmente o que
existia (desde o início do século XX) antes da sua formação. Contudo, o
detalhadamente, o pormenorizadamente não existem naquilo que na verdade separa
o romance, uma obra de ficção de uma de não-ficção. Falta profundidade nas
relações entre personagens, faltam amores proibidos (até os há, mas tão
murchinhos…), falta ritmo à narrativa, os temas dos diálogos repetem-se, as
peripécias nas vidas das personagens são descritas de uma forma insossa, enfim
seria necessária uma revolução em quase toda a obra para que a sua leitura se
tornasse bem menos maçadora.
Mas nem tudo é negativo. Por um lado,
o desenlace é inesperado, é uma lufada de ar fresco e faz-nos compreender o
título da obra e o mote da mesma – “Há
momentos na vida em que a única forma de nos salvarmos a nós próprios é matando
ou morrendo.” Por outro, o antepenúltimo capítulo – o mais extenso da obra –
foi o que mais me cativou, talvez porque aborda (com um ritmo mais vivo e uma
análise mais conseguida) a Segunda Grande Guerra, a intensa e temerária oposição
que a Resistência francesa ofereceu aos nazis e as desumanas experiências que estes
últimos levaram a cabo contra os judeus nos campos de extermínio.
Sendo assim, tendo em conta o que já
disse, não posso recomendar muito esta obra, a não ser para quem aprecie o
género, isto é, uma obra que é quase de não-ficção…
NOTA – 05/10
Sinopse
Um
romance extraordinário sobre o conflito israelo-árabe retratando personagens
inesquecíveis, cujas vidas se entrelaçam com os momentos-chave da história a
partir do final do século XIX a meados do século XX, e recriando a vida em
cidades emblemáticas como São Petersburgo, Paris e Jerusalém. Aqui Julia
Navarro conduz o leitor através de relações duras de homens e mulheres que
lutam por uma parcela de terra onde possam viver em paz.
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