O ano sabático, de João Tordo

Domingo, 13 de outubro de 2013



Plano Nacional de Leitura
Livro recomendado para o Ensino Secundário como sugestão de leitura.

Depois de treze anos de vida desregrada no Québec, Hugo, um contrabaixista de jazz, decide tirar um «ano sabático» e regressar a Lisboa, onde espera reencontrar o equilíbrio junto da família. Porém, logo numa das primeiras noites, assiste ao concerto de Luís Stockman - um pianista que se tornou recentemente famoso -, e a almejada paz transforma-se no pior dos pesadelos: Stockman toca um tema inédito que Hugo conhece bem demais, pois é o mesmo que vem escrevendo há anos na sua cabeça…
Quando o começam a confundir na rua com o pianista - e a própria mãe lança a dúvida sobre a sua identidade -, Hugo encetará uma busca obsessiva da verdade e do seu duplo, entrando num labirinto de memórias e contradições que o conduzirá a um destino muito mais funesto do que imaginara ao deixar Montreal. É nessa mesma cidade que Stockman desaparecerá, curiosamente, mais tarde, segundo nos conta o seu melhor amigo - o narrador deste romance - a quem cabe agora desmontar os acontecimentos, destrinçar fantasia e realidade e enfrentar as assustadoras e macabras coincidências que unem, como num espelho, a vida dos dois músicos.

Opinião
Acabadinho de ler, este livro de Tordo (o terceiro que leio) centra a sua ação (tal como nos informa a sinopse correspondente) na vida de um músico chamado Hugo. Presentemente, este músico, que regressa a Lisboa deixando uma vida de emigrante no Canadá, caracterizada (pelo menos nos últimos anos) pela desilusão, tristeza e bebida, não tem nada a seu favor, nem mesmo o que fora até aí o seu ganha-pão e razão para levantar-se da cama todos os dias – a música e o seu contrabaixo (que trata como se fosse um filho e ao qual trata carinhosamente de “Nutella”).
Contudo, como se tudo isto não bastasse, a sua vida piora quando, já em Lisboa, ouve um concerto de um pianista em ascensão e percebe que este toca uma música que ele, Hugo, estava a compor e que ninguém havia ouvido… A partir daí, Hugo inicia uma demanda “enlouquecida” para tentar descobrir tudo o que possa sobre esse músico que não só parece ter-lhe roubado a criação musical como também a identidade, já que é extremamente parecido consigo fisicamente, como se fosse o seu outro gémeo, para além da sua irmã.
Infelizmente não posso dizer que tenha gostado muito desta obra… Apesar de não ter ficado indiferente às linhas que ligam o protagonista Hugo ao autor João Tordo – ambos passaram pela experiência traumática de ter perdido o terceiro gémeo no momento do parto e os dois tocam contrabaixo – não me senti agarrada por esta narrativa como me senti, por exemplo, com a leitura de O Homem Duplicado, de Saramago. Em O Ano Sabático, há uma loucura desesperada que determina a busca de Hugo no que parece ser a tentativa de confirmar se o músico que ouviu em Lisboa poderá ser o seu terceiro gémeo, aquele que morreu no momento do parto. Há também uma deterioração física e psicológica em Hugo que nos toca, mas que nos deprime e que nos faz adivinhar o seu fim trágico. Nada na sua vida faz sentido, a relação que tem com a mãe, com o cunhado e inclusive com a irmã nada contribui para a sua tranquilidade e o contrabaixo deixa de ter utilidade, deixa de ser um prolongamento de Hugo como tinha sido até então…
Tenho, no entanto, que fazer uma ressalva à personagem que, pela sua inocência, comentários e traquinices próprios da sua idade, permitiu que, entre tantas linhas e páginas entranhadas de sentimentos depressivos e de desespero, eu sorrisse e me sentisse completamente rendida. Falo do pequeno Mateus, sobrinho de Hugo e que, apesar de surgir pontualmente, tem o encanto que só uma criança consegue ter ao chamar, por exemplo, “barco baixo” ao contrabaixo do tio e ao sujar-se todo com a comida, ao meter os dedos na boca e ao estar constantemente a perguntar algo, nem que seja a mesma coisa por mais de uma vez, como se a(s) resposta(s) anterior(es) não o satisfizessem J

Concluindo, muito provavelmente não relerei esta obra, mas não perdi a vontade de continuar a ler Tordo! Ai, isso é que não!

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