Diário Inédito, de Vergílio Ferreira

Quarta-feira, 17 de novembro de 2011




Vergílio Ferreira é um dos meus “génios” literários – não há dúvida que Aparição é um dos livros da minha vida!
Ofereceram-me o seu Diário Inédito no meu aniversário (já lá vão alguns mesitos), mas só agora a ordem cronológica pela qual vou lendo permitiu que chegasse às minhas mãos. Embora não seja o género literário que mais aprecio, a leitura de este Diário foi frutífera e dei comigo a sublinhar algumas passagens com as quais me identifiquei e que passo a transcrever:
Trabalho, luto sempre. Por amor, por ódio, por vaidade? Quem pode traçar o limite à qualidade dos impulsos humanos? Por mim suponho que, se insisto em escrever, é apenas porque não descubro outro sentido para dar à vida. Ninguém vive sem um significado. Os próprios madraços acham na indolência o seu caminho da verdade. Está bem: luto em ódio, em vaidade. Se assim é, bendita vaidade, bendito ódio, porque são eles que me fazem sentir estes braços, este corpo, esta necessidade de ser mais um que vive.”
Uma bela descrição de Torga:
“Saiu agora mesmo do ventre da serra, mãos escorrendo húmus, olhos assombrados, possantemente telúrico. Cava a sua prosa a enxadão. Carrega uma manta de giestas e urze. Deve dormir nas fragas e caçar de pederneira. A gente acha que uma vida assim não é de homem, mas de lobisomem. Pois é vê-lo a justificar-se. Berra que a sua pena de artista é honrada e natural. Apresenta-se de braços caídos e de peito aberto. Que o vejam por dentro e por fora. Que lhe sintam na arca peitoral o respirar das montanhas. Que lhe palpem a ossatura e digam se aquilo é ou não granito de cantaria.”

“Inteira
no sabor
de uma dor.
Verdadeira
na cor
de uma flor.
Exacta em cada momento,
e no instante do movimento
mentida

– Vida.” 

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