Anatomia dos mártires, de João Tordo

Domingo, 04 de novembro de 2012



Sinopse
Anatomia dos Mártires é a história de uma obsessão verdadeira transformada em ficção - a de uma investigação contemporânea (e original) sobre o mito de Catarina Eufémia - e também a tentativa de reconciliação de um escritor nascido imediatamente após a Revolução de Abril com o passado. Um jornalista insensato e ambicioso quer provar ao seu editor - um comunista irascível, alcoólico e com bastante desprezo pelos jovens - que não é só mais um na redacção. Escolhido para ir a Berlim entrevistar o biógrafo de um mártir religioso, aproveita a deixa para fazer, no seu artigo, uma analogia com a história de Catarina Eufémia, a camponesa que se tornou um ícone do Partido Comunista, mas de quem, na verdade, pouco ou nada sabe. Quando, porém, o artigo é publicado, as reacções de indignação por parte dos leitores não se fazem esperar, algumas das quais bastante ameaçadoras; e, na noite em que o editor é encontrado na rua em coma, aparentemente brutalizado, o jornalista pergunta-se se não terá sido por defender publicamente o seu artigo e começa a suspeitar de que existe muito mais em jogo do que a simples memória de uma camponesa assassinada pela GNR durante a ditadura. É então que decide investigar obsessivamente a vida de Catarina, desbravando por entre o nevoeiro que paira sobre os mártires e os transforma em mitos de que sempre alguém se apodera. E encontra realidades bem distintas - e mais tenebrosas - do que podia esperar.

Opinião
A leitura do segundo romance de João Tordo que "mora" na minha biblioteca caseira não foi tão arrebatadora como foi a de As 3 vidas. Tudo o que me conquistou neste autor mantém-se em Anatomia dos Mártires – a sua rica escrita, a boa construção das personagens, sobretudo a do protagonista (a quem curiosamente o autor não dá nome) e um final que não gora as expetativas. Contudo, o ritmo da narrativa não é o mais desejado e há momentos que se caracterizam pela estagnação e pela repetição…
Abordando os aspetos que considerei mais positivos tenho que referir o protagonista, o cuidado que o autor demonstra ter posto na sua construção, um homem desalentado, que está nos antípodas de um jovem crente em ideologias (como acreditamos terem sido os jovens do antes 25 de abril) e que põe na obcecada procura de respostas sobre Catarina Eufémia um sentido para a sua vida estagnada e sem rumo. Essa obsessão sobre esta camponesa alentejana assassinada foi também importante para mim, pois espicaçou a minha curiosidade em saber mais sobre alguém de quem já tinha ouvido falar, mas muito vagamente.

Mesmo com estes aspetos positivos, não posso considerar este romance tão interessante e tão recomendável como As 3 vidas… 

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