Estaciones de Paso, de Almudena Grandes

Sexta-feira, 25 de março de 2011



(RELEITURA) / (LEÍDO EN ESPAÑOL)



Entrei no mundo de Almudena Grandes através desta coletânea de contos, Estaciones de Paso, emprestada pela minha Nancy, e nunca mais de lá saí!!!! Todas as obras que já li desta fantástica autora espanhola são MARAVILHOSAS, repletas de narrativas densas, profundas, com muita introspeção psicológica, ou seja, um estilo literário que me obriga a refletir, a entrar "no mundo interior" de cada personagem e a conhecer os seus medos, as suas fragilidades, os seus anseios, os seus sonhos, enfim, a conhecer a sua essência enquanto pessoas. E mesmo que sejam pessoas ficcionais, são o retrato da realidade, de uma realidade que não é e nunca será linear!

Estaciones de Paso contém 5 histórias completamente diferentes, com temas muito variados, mas com uma característica em comum - todos os seus protagonistas são adolescentes, cinco adolescentes que se encontram num situação que foge ao seu controlo, pois não a  conseguem compreender, sentem muitas dificuldades em lidar com ela, mas têm que vivê-la... Contudo, no final, toda esta incompreensão e dificuldades farão com que os protagonistas amadureçam, percebam o seu lugar enquanto pessoas e entendam que a vida não é fácil, mas há que vivê-la e seguir em frente.

O primeiro conto que o livro nos oferece foi e será aquele que mais impacto teve e terá em mim. Intitula-se "Demostración de la existencia de Dios" e é um monólogo enfurecido, enraivecido e doloroso de um adolescente de 14 anos que perdeu o seu irmão mais velho por causa de uma leucemia. O monólogo é dirigido diretamente a Deus (mesmo  que o protagonista se diga ateu), já que este último quer respostas para uma situação incompreensível, devastadora, que o deixa impotente, mesmo tendo-se sujeitado a um transplante de medula para tentar salvar o seu irmão.  
Ao mesmo tempo que se dirige a Deus, o protagonista vai vendo a transmissão de um jogo de futebol da sua equipa de eleição (o Atlético de Madrid) e fica ainda mais irado porque nem esse jogo lhe traz algum consolo, já que o Atlético é goleado...
Este conto marcou-me por todo o sofrimento que ninguém deveria sentir, muito menos um adolescente e, sobretudo, pela forma como o seu testemunho chega até nós, com uma linguagem direta, cheia de calão, típica de adolescentes, e que, para quem já passou por uma situação semelhante, nos faz sentir muito próximos do protagonista.

Para finalizar, volto a fazer a pergunta que já me fiz milhentas vezes e que, quem conhece a obra de Almudenas Grandes, também faz - como é possível que nenhuma editora portuguesa queira continuar a publicar as obras desta GENIAL autora espanhola???? É certo que as suas primeiras obras foram traduzidas e publicadas pela Presença e pela Dom Quixote, mas, inexplicavelmente, depois da publicação de Os Ares Difíceis nada... Assim, quem não consiga ler em espanhol fica, sem dúvida, um leitor mais pobre...

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